Quem nunca ouviu falar sobre o famoso “desenvolvimento econômico” que o Brasil busca desde sempre? E por que parece que ficamos sempre tão perto, mas nunca cruzamos a linha de chegada? O Censo do IBGE mostra que Brasil segue sendo um país de renda média. O conceito da “armadilha da renda média” busca explicar o dilema enfrentado por países que crescem até certo ponto, mas depois não conseguem sustentar o progresso para chegar ao status de nação desenvolvida. O Brasil parece ser um dos exemplos clássicos desse fenômeno.
Aqui, vale a pena lembrar um pouco do livro “Por Que as Nações Fracassam”, de Daron Acemoglu e James Robinson, vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2024 (Você pode ler mais sobre o livro aqui). Neste livro, que já explorei em outros textos, a tese central gira em torno de como as instituições, e não apenas fatores econômicos, são essenciais para o sucesso ou o fracasso de uma nação. Segundo Acemoglu e Robinson, instituições inclusivas – aquelas que promovem participação e oportunidade – levam ao crescimento sustentável, enquanto as instituições extrativistas – que concentram riqueza e poder em poucas mãos – tendem a estagnar as nações. E é aqui que nossa conversa sobre a armadilha da renda média começa a se conectar com a realidade brasileira.
A Armadilha da Renda Média: O que é?
Então, o que é essa “armadilha da renda média”? O conceito parte de um ponto simples: muitos países em desenvolvimento alcançam um crescimento considerável, saindo da pobreza para um nível intermediário de renda. Mas, depois disso, não conseguem sustentar esse avanço para se tornar uma economia de alta renda. Eles ficam “presos” no meio do caminho, crescendo a taxas cada vez menores e enfrentando dificuldades para competir com economias avançadas. É como se houvesse um teto invisível que esses países batem, mas não conseguem atravessar.
Os motivos para isso são variados. Quando um país começa a crescer, geralmente se baseia em vantagens como mão de obra barata ou abundância de recursos naturais. Mas, para dar o próximo passo, ele precisa investir em inovação, educação, infraestrutura e políticas públicas de qualidade. Isso exige instituições fortes, que promovam um ambiente de inclusão e competição justa. E aqui, inevitavelmente, o Brasil entra na conversa.
O Brasil e a Armadilha da Renda Média
Olhando para o Brasil, a questão da armadilha da renda média é especialmente intrigante. Nos anos de 1960 e 1970, o Brasil viveu um grande crescimento econômico, conhecido como “milagre econômico brasileiro”. Com uma industrialização rápida e um aumento na renda, parecia que o país estava pronto para ingressar no grupo das economias desenvolvidas. No entanto, esse crescimento foi interrompido pela crise da dívida dos anos 1980, e desde então o Brasil parece não conseguir retomar um ritmo de progresso consistente.
Nos anos 2000, houve um novo ciclo de crescimento impulsionado pelo boom das commodities. O país surfou na onda da alta dos preços internacionais do minério de ferro, soja e petróleo, o que trouxe uma injeção de renda significativa para o governo e uma sensação de prosperidade. Mas, mais uma vez, a trajetória ascendente não se sustentou. Quando os preços das commodities caíram, o crescimento desacelerou e o Brasil, ao que parece, voltou a bater no teto da renda média.
Questões Estruturais: Será que estamos presos?
Esse ciclo de avanços e retrocessos me leva a pensar em como as instituições brasileiras se encaixam na teoria de Acemoglu e Robinson. Será que nossas instituições são inclusivas o suficiente para promover um crescimento sólido e sustentado? A resposta, infelizmente, parece estar mais próxima do “não” do que gostaríamos. O Brasil, historicamente, apresenta uma estrutura institucional marcada por desigualdades, corrupção e uma alta concentração de poder e recursos. Isso impede a criação de um ambiente em que todos possam prosperar e, mais importante, onde a inovação e a competitividade possam crescer.
Para sair da armadilha da renda média, o Brasil precisaria investir muito mais em educação e infraestrutura, além de fomentar um ambiente de negócios dinâmico e inovador. Mas, enquanto nossos sistemas institucionais permanecerem com estruturas extrativistas – que favorecem uma elite limitada e não promovem oportunidades igualitárias – dificilmente conseguiremos ultrapassar esse limite.
O Que Nos Resta?
Ao observar o Brasil hoje, fico com uma pergunta em mente: o que realmente precisamos mudar para romper essa barreira? Não faltam recursos naturais, e temos uma população jovem e diversa, cheia de potencial. Porém, enquanto as instituições continuarem favorecendo interesses particulares e limitando o progresso coletivo, a armadilha da renda média continuará sendo uma realidade para nós.
A teoria da armadilha da renda média é, no fundo, um alerta: crescer um pouco é uma coisa, mas consolidar esse crescimento e garantir um progresso sustentável exige um compromisso mais profundo com a transformação social e institucional. E essa transformação, como já indicaram Acemoglu e Robinson, só será possível se construirmos instituições que sirvam a todos e promovam uma sociedade mais justa e inclusiva.
A armadilha da renda média coloca o Brasil em um dilema – estamos, de fato, prontos para fazer o que é necessário para alcançar o tão desejado status de país desenvolvido? Ou continuaremos dando voltas, presos a um sistema que limita nosso potencial? Este é um desafio que transcende a economia e toca no cerne da nossa organização social e política. E, no fim das contas, cabe a cada um de nós – como sociedade e como cidadãos – refletir sobre o papel que podemos desempenhar para quebrar essa armadilha e construir um futuro diferente.
Leituras complementares:
A armadilha da renda média: trajetória brasileira e apreciações críticas