Irã: Da Glória Persa à Revolução Islâmica

Mapa do império persa

Você já parou para pensar em como o Irã, a antiga Pérsia dos grandes impérios, passou de uma civilização que moldou o mundo antigo para um dos principais protagonistas (e alvos) da geopolítica moderna? É curioso, porque o que hoje chamamos de Irã não é só um país; é uma história viva, cheia de altos e baixos, como uma novela com episódios épicos e outros cheios de tensão dramática.

Para entender o Irã de hoje, precisamos dar um passo para trás e olhar para a Pérsia, o berço de reis lendários como Ciro, Dario e Xerxes. Ah, esses eram os caras que criaram um dos maiores impérios que o mundo já viu, com uma sofisticação política e cultural que ainda influencia o mundo. Mas, é claro, toda história tem suas reviravoltas. E, no caso do Irã, a maior delas veio em 1979, com a Revolução Islâmica. Foi um evento que literalmente virou o país de cabeça para baixo – ou, como muitos diriam, o fez “voltar no tempo”.

Agora, vamos por partes, porque essa história merece ser degustada como um bom chá persa: com calma e atenção aos detalhes.

A Pérsia dos Imperadores

Quando penso na antiga Pérsia, imagino um verdadeiro império dos sonhos. Estamos falando de um território que, no auge, sob Dario, o Grande, no século V a.C., se estendia da Grécia até o vale do Indo, cobrindo partes de três continentes. Isso sem falar na Rota da Seda, que conectava a Pérsia a praticamente todo o mundo conhecido.

O sistema administrativo deles era revolucionário: províncias chamadas de “satrapias”, governadas por representantes locais, mas supervisionadas de perto pelo imperador. Ah, e não dá para esquecer as inovações – o Correio Persa (angareion), que já era tipo uma versão primitiva da Amazon, e a Estrada Real, uma maravilha que facilitava o comércio e a comunicação.

Mas, como todo império, a Pérsia teve seu declínio. Alexandre, o Grande, veio e fez um estrago, levando embora boa parte da glória persa. Séculos depois, o território tornou-se um mosaico de influências – árabes, mongóis, turcos, você escolhe. A grande virada viria muito mais tarde, no século XX, quando o Irã moderno começou a tomar forma sob uma monarquia que tentava equilibrar modernidade e tradição. E é aí que nossa história começa a ficar realmente interessante.

Mais detalhes: Dario I – Wikipédia, a enciclopédia livre / Sátrapa – Wikipédia, a enciclopédia livre / Estrada real persa: Todos os caminhos levam á Pérsia. – Brasil Escola – As Cartas e Correspondência na Antiguidade – Enciclopédia da História Mundial

O Reinado do Xá e o Caminho Para a Revolução

No século XX, o Irã era governado pela dinastia Pahlavi, com Reza Xá e, depois, seu filho Mohammad Reza Pahlavi no comando. Eles tinham uma visão ambiciosa: transformar o Irã em uma potência moderna, nos moldes do Ocidente. Só que essa modernização foi como pintar uma casa sem consertar as rachaduras na estrutura.

Reza Xá, que assumiu o poder nos anos 1920, tentou centralizar o poder, secularizar as leis e transformar o país em um estado mais ocidental. Depois dele, seu filho, Mohammad Reza, assumiu e levou adiante o projeto de modernização. A economia estava decolando com a exploração de petróleo, e o Xá não economizava nos gastos para mostrar ao mundo um Irã moderno. Até aí, parece o roteiro de um “case de sucesso”, não é? Só que havia um problema: o povo.

Enquanto o Xá promovia reformas ocidentalizadas – como a chamada Revolução Branca, que incluía reforma agrária, emancipação feminina e investimentos em infraestrutura –, grande parte da população se sentia desconectada. Era como se o Irã estivesse vivendo uma crise de identidade. Quem éramos? Persas modernos ou uma nação muçulmana tradicional? E, claro, sempre que você faz mudanças rápidas demais, alguém acaba ficando muito insatisfeito.

E esse “alguém” foi o clero xiita, liderado por um personagem que ainda assombra os livros de história: o aiatolá Ruhollah Khomeini. Enquanto o Xá tentava apagar a influência da religião, Khomeini, exilado na França, transformava a fé xiita em uma bandeira política. Ele não só criticava o governo como também associava o Xá aos interesses ocidentais, especialmente os dos Estados Unidos e Reino Unido – países que não escondiam seu interesse no petróleo iraniano.

Mais detalhes: Reza Xá – Wikipédia, a enciclopédia livre / Há 40 anos, xá Reza Pahlavi fugia de um Irã tomado pela Revolução / The Fall of Reza Shah: The Abdication, Exile, and Death of Modern Iran’s Founder | Wilson Center / Mohammad Reza Pahlavi – Wikipédia, a enciclopédia livre / Mohammad Reza Shah Pahlavi | Biography, History, & White Revolution | Britannica / Revolução Branca (Irão) – Wikipédia, a enciclopédia livre / Iranian Revolution | Britannica / A Revolução do Irã – Monitor do Oriente / Ruhollah Khomeini – Wikipédia, a enciclopédia livre

1979: O Ano em Que Tudo Mudou

E então veio 1979. A Revolução Islâmica foi o momento em que o Irã disse “basta” – mas de uma maneira muito específica. Não foi uma revolução pedindo democracia ou direitos civis no estilo ocidental. Foi, na verdade, um retorno às raízes religiosas, liderado por Khomeini. Imagine um país inteiro passando por uma crise de meia-idade e resolvendo jogar fora o terno moderno para voltar a usar uma roupa tradicional. Foi mais ou menos isso.

O Xá fugiu do país, e Khomeini retornou do exílio para instaurar a República Islâmica. E aqui as mudanças foram radicais. O Irã passou a ser governado pela Sharia, a lei islâmica, e a figura mais poderosa do país passou a ser o Líder Supremo – um título que Khomeini assumiu de bom grado. O poder, antes centralizado no palácio do Xá, foi redistribuído para o clero xiita.

De repente, tudo no país girava em torno da religião. Direitos das mulheres foram severamente restringidos, a imprensa foi silenciada e a oposição foi esmagada. Mas, o que mais chamou atenção foi a política externa. O Irã passou a se ver como um antagonista direto do Ocidente. A crise dos reféns na embaixada americana, em 1979, marcou o início de uma relação tensa com os Estados Unidos, que persiste até hoje.

Mais detalhes: Revolução Iraniana, 45 anos: como revolta popular deu origem ao atual regime dos aiatolás – BBC News Brasil / A Revolução do Irã – Monitor do Oriente / Revolução Iraniana – Wikipédia, a enciclopédia livre / Como era a vida das mulheres no Irã antes da Revolução Islâmica – BBC News Brasil / Os fatos que precederam a Revolução Islâmica – DW / Crise dos reféns americanos no Irã – Wikipédia, a enciclopédia livre / The Iranian Hostage Crisis – Short History – Department History – Office of the Historian

A Relação do Irã com o Oriente Médio: Milícias, Terrorismo e Conflitos com Israel

O Irã desempenha um papel central na dinâmica geopolítica do Oriente Médio atual, especialmente por meio de seu financiamento e apoio a grupos paramilitares e milícias em toda a região. Essa estratégia faz parte de uma política chamada “Eixo da Resistência”, liderada pelo Irã, que busca desafiar Israel e conter a influência ocidental no Oriente Médio. O apoio iraniano a grupos como Hezbollah, Hamas e Jihad Islâmica Palestina é uma peça-chave para entender os recentes conflitos na região.

Mais detalhes: Eixo da Resistência – Wikipédia, a enciclopédia livre / Como funciona o ‘eixo da resistência’ comandado pelo Irã no Oriente Médio | G1 / O que Irã vai fazer agora que seu ‘Eixo da Resistência’ foi destruído? | Mundo | G1 / O que é o ‘Eixo da Resistência’ e por que queda de Assad abala aliança

O Papel do Irã no Financiamento de Grupos Paramilitares

O Irã direciona bilhões de dólares anuais para sustentar grupos armados que compartilham sua oposição ao Estado de Israel e aos interesses dos EUA. O Hezbollah, baseado no Líbano, é talvez o exemplo mais evidente dessa influência. Financiado e armado pelo Irã, o Hezbollah atua como uma extensão militar e política de Teerã, engajando-se diretamente em confrontos contra Israel e desempenhando um papel importante na guerra civil síria, em apoio ao regime de Bashar al-Assad, outro grande aliado do Irã que teve sua queda no dia 08 de dezembro.

Outro exemplo é o Hamas, na Faixa de Gaza. Recentemente, os ataques do Hamas contra Israel desencadearam um dos conflitos mais intensos dos últimos anos. Relatórios indicam que o Irã forneceu financiamento, treinamento e tecnologia para a fabricação de foguetes utilizados contra cidades israelenses. Embora o Hamas seja uma organização sunita, sua aliança com o Irã xiita ilustra como Teerã busca expandir sua influência além das divisões sectárias.

Mais detalhes: Irã canaliza bilhões de dólares em comércio ilegal de petróleo / Queda de Assad na Síria confirma que 2024 foi pior ano para o Irã em décadas – BBC News Brasil / Entenda os interesses do Irã em financiar grupos terroristas e a capacidade bélica do país | G1

O Ódio Declarado a Israel

A relação do Irã com Israel é marcada por uma hostilidade aberta e histórica. Desde a Revolução Islâmica de 1979, o governo iraniano não reconhece Israel como Estado e frequentemente pede sua destruição. Esse antagonismo se reflete tanto na retórica política quanto no apoio material a grupos que realizam ataques contra Israel.

Em 2024, o conflito entre Israel e grupos apoiados pelo Irã atingiu novos picos. Israel lançou uma série de ataques aéreos contra posições do Hezbollah no sul do Líbano, respondendo a foguetes disparados contra seu território. Ao mesmo tempo, mísseis iranianos foram interceptados em direção a Israel, o que gerou novas ameaças de escalada por ambas as partes. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu retaliações severas, incluindo possíveis ataques a instalações estratégicas iranianas. Pela internet já podemos encontrar diversos videos de explosões em grande escala nas regiões da Siria e Líbano, onde o Ira mantem grupos paramilitares ativos.

Mais detalhes: Israel x Irã: qual a origem da rivalidade entre os dois países – BBC News Brasil / Por que iranianos querem eliminar Israel em vez de… | VEJA / Relações entre Irã e Israel – Wikipédia, a enciclopédia livre

A Queda de Bashar al-Assad e Seus Impactos Geopolíticos

No dia 8 de dezembro de 2024, o regime de Bashar al-Assad, que governou a Síria por mais de duas décadas, chegou ao fim. A queda foi impulsionada por uma ofensiva relâmpago liderada por uma coalizão rebelde, o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que tomou a capital Damasco e forçou Assad a fugir para Moscou, onde recebeu asilo político. Esse desfecho marca o colapso de uma dinastia que governou a Síria por mais de 50 anos, desde o regime de seu pai, Hafez al-Assad.

Mais detalhes: A Queda de Bashar al-Assad: O Fim de Uma Era na Síria | Cavaléro Geopolitics / Em 1º pronunciamento após queda, Assad diz que foi forçado a deixar a Síria | Mundo | G1 / Bashar al-Assad faz primeiras declarações após queda e diz que Síria está nas mãos de “terroristas” / Milhares de pessoas na Síria celebram queda de Assad | CNN Brasil / Queda do regime de Bashar al-Assad – Wikipédia, a enciclopédia livre

A queda de Assad representa um golpe significativo para o Irã, que via na Síria um de seus principais aliados estratégicos no Oriente Médio. Sem o regime sírio, o corredor de influência iraniano até o Hezbollah, no Líbano, está ameaçado, enfraquecendo a capacidade do Irã de projetar poder na região. Isso é visto como uma vitória estratégica para Israel, que há anos busca conter o avanço do “Eixo da Resistência” liderado pelo Irã.

Para Israel, a instabilidade na Síria reduz a pressão militar em sua fronteira norte e enfraquece os canais de armamento entre Teerã e seus aliados. No entanto, a fragmentação da Síria pós-Assad traz novos desafios, como o fortalecimento de grupos jihadistas, o que pode gerar instabilidade a longo prazo na região.

A queda de Bashar al-Assad é um momento histórico que reconfigura o cenário geopolítico do Oriente Médio, levantando perguntas sobre o futuro da Síria, o papel do Irã na região e a capacidade de Israel e outras potências de lidar com as novas dinâmicas de poder.

O Irã Antes e Depois da Revolução

Se antes de 1979 o Irã era visto como um aliado do Ocidente – apesar das críticas ao autoritarismo do Xá –, depois da Revolução Islâmica, o país se tornou um pária internacional. Para piorar, a guerra Irã-Iraque, iniciada em 1980, colocou o país em um conflito sangrento por oito anos, drenando seus recursos e complicando ainda mais sua posição na geopolítica.

E o petróleo, antes uma bênção, passou a ser uma arma tanto para o Irã quanto para seus adversários. O país enfrentou sanções econômicas severas, que até hoje afetam sua economia. Por outro lado, o Irã também encontrou aliados no mundo muçulmano e nas potências que buscavam desafiar a hegemonia ocidental, como a Rússia e a China.

O Irã é, sem dúvida, um dos países mais desafiadores de entender. Sua história é como um mosaico: peças brilhantes e gloriosas ao lado de fragmentos sombrios e controversos. A Revolução Islâmica de 1979 transformou profundamente o país, redefinindo não apenas suas leis e sociedade, mas também seu papel no mundo.

E o que será do Irã no futuro? Será que o país vai continuar a ser esse enigma geopolítico, ou estamos prestes a ver mais um capítulo surpreendente nessa novela histórica? Uma coisa é certa: a história iraniana nunca é previsível, e isso é o que a torna tão fascinante.

Leituras complementares: O império Persa: dez mil imortais / Império Persa: resumo, mapa e cultura [resumo completo] / Império Persa (550 a.C – 330 a.C) / Iranianos confrontam seus líderes sobre desastre na Síria – The New York Times / Síria estremece quando as atrocidades de Assad na prisão vêm à tona – The New York Times

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