A Corrupção no Brasil: quando o absurdo vira rotina

Como servidor público, confesso que é desanimador conviver em um ambiente onde muitos estão ali para facilitar algum esquema ou fraude em benefício próprio ou de seu grupo político. E acredite, mesmo ganhando um ótimo salário mensal de forma legal, muitos desses servidores e apadrinhados políticos não conseguem viver de maneira honesta. O salário não é suficiente para o apetite voraz de manter um padrão de vida que os “encaixe” na sociedade. Sim, é uma corrida pelo acúmulo de bens materiais. Grande parte desse “esforço pela corrupção” visa trocar de carro no final do ano, reformar a casa ou, quem sabe, finalmente comprar a tão sonhada casa na praia. A corrupção no Brasil não é apenas um problema: ela se tornou uma espécie de entidade invisível que todos conhecem, mas poucos têm coragem de enfrentar. E, pior, estamos aprendendo a conviver com ela como quem se acostuma a um vazamento de água: a gente ignora até a casa começar a ruir.

Essa semana, enquanto navegava pelas notícias de politica internacional, me deparei com algo que parece ficção científica para os nossos padrões brasileiros: a China executou um ex-funcionário da Região Autônoma da Mongólia Interior por corrupção. Sim, você leu certo: executou. O caso de Li Jianping, condenado por movimentar bilhões em esquemas de fraudes e subornos, é mais do que um recado interno; é uma mensagem global de que o país não está para brincadeira quando o assunto é corrupção. E aí, inevitavelmente, comecei a me questionar: por que aqui, no Brasil, parece tão impossível levar a corrupção a sério?

A China e o Recado de Li Jianping

Na China, a política de combate à corrupção é severa, quase implacável. A execução de Li Jianping, que atuou como secretário do comitê de trabalho do Partido Comunista para a Zona de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico de Hohhot embora chocante aos olhos do Ocidente, simboliza um governo que entendeu que, sem um freio, a corrupção corrói um país por dentro. É como um cupim que começa na madeira e, sem controle, consome toda a estrutura. Lá, não importa o quão grande é o peixe: se for pego nadando contra as regras, ele será fritado. E isso inclui políticos, empresários e até servidores públicos de alto escalão. O Supremo Tribunal Popular – o STF Chinês – agiu com precisão cirúrgica, deixando um recado claro: o preço da corrupção é alto demais.

Aqui no Brasil, por outro lado, parece que vivemos num universo paralelo. Corrupção é quase um esporte, e a punição, uma piada de mau gosto. Quando um escândalo surge, as manchetes explodem, as pessoas se indignam nas redes sociais e, depois de alguns meses, ninguém mais lembra. Enquanto isso, o corruptor está em casa, tomando uma caipirinha na beira da piscina. Impunidade, no Brasil, é quase uma lei não escrita.

Quando o Problema Se Torna Sistêmico

A grande diferença entre nós e a China está no peso que damos a esse tipo de crime. Lá, corrupção é tratada como uma ameaça à estabilidade nacional. E faz sentido, não? Pense bem: se um país não consegue confiar em suas instituições, como ele vai se desenvolver? Aqui no Brasil, o problema é sistêmico. Ele não está apenas nos políticos que desviam milhões das verbas públicas; ele se espalha como uma praga pela máquina estatal. Tem gestor que acha normal superfaturar contratos, tem servidor que se conforma com o “jeitinho”, e tem cidadão que vê tudo isso e pensa: “não adianta, o Brasil é assim mesmo.”

E é aí que está o maior perigo: quando o absurdo vira rotina. É como olhar para um incêndio e dizer que ele vai se apagar sozinho. Enquanto aceitamos essa cultura, a corrupção continua sugando os recursos que poderiam estar em escolas, hospitais e infraestrutura. Não é à toa que o Brasil tem cara de estado falido: o dinheiro público evapora, a conta não fecha, e a qualidade de vida afunda junto com as promessas políticas.

A Impunidade Como Carro-Chefe

Agora me diga: quantos grandes nomes da política ou do empresariado você conhece que estão realmente pagando pelos seus crimes? Pouquíssimos, quase nenhum. No Brasil, a punição é um processo longo, arrastado, cheio de recursos, brechas e tecnicalidades jurídicas que mais parecem ter sido feitas para proteger os culpados do que para garantir justiça. Enquanto o Supremo Tribunal chinês age com velocidade e firmeza, aqui, decisões que deveriam ser definitivas se tornam elásticas como chiclete.

Claro, não estou sugerindo que o Brasil deva seguir o mesmo modelo chinês. A execução de corruptos é um tema polêmico e que, certamente, não se encaixa em nossos valores e na nossa legislação. Mas a pergunta é: será que não podemos, ao menos, tratar a corrupção com a seriedade que ela merece?

Caminho Para o Abismo

Olhando para o futuro, me preocupa profundamente o rumo que o Brasil está tomando. Um país que se recusa a combater a corrupção com firmeza é um país que caminha para o abismo. Quando um gestor desvia verba de um hospital, vidas são perdidas. Quando um político superfatura obras públicas, uma cidade inteira fica sem infraestrutura básica. Quando um servidor “ajeita” um contrato, o dinheiro que deveria ser investido em politicas publicas desaparece.

E aí eu volto à China. A execução de Li Jianping não é só sobre um corrupto punido; é sobre um sistema que entendeu que a corrupção destrói nações. Aqui, estamos esperando o quê? Que o Brasil imploda de vez? Que a falta de recursos atinja um ponto sem retorno?

Uma Reflexão Necessária

Como servidor público, me dói ver essa complacência com o erro. Fico pensando quantas pessoas, como eu, olham o sistema de dentro e sentem a mesma indignação. Será que não é hora de encarar a corrupção como o problema estrutural que ela é? Será que não podemos exigir um sistema jurídico mais rápido, mais justo e, acima de tudo, mais comprometido com o futuro do país?

A China pode ter métodos duros demais, mas uma coisa é inegável: eles entendem que a corrupção precisa ser combatida com mão firme. Já passou da hora de o Brasil entender isso também. Se continuarmos fingindo que o problema não é tão grave assim, logo não sobrará nada além de um país falido, governado por velhos conhecidos do noticiário — e do sistema penitenciário, de onde eles saem apenas para jantar em restaurantes caros.

Fonte: China’s largest corruption case: Li Jianping executed for $421 mn fraud | World News – Business Standard / Supremo Tribunal Popular da China – Wikipédia, a enciclopédia livre

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