Por que o governo russo resolveu esvaziar presídios para sustentar a guerra na Ucrânia? Se você não acompanhou o começo dessa história, com visitas a celas e promessas que escondem armadilhas, deixa eu te trazer de volta. Desde que o conflito estourou, em fevereiro de 2022, homens condenados — ladrões, estupradores, assassinos — estão sendo tirados das prisões e jogados no front. Esse é o nível de combatentes que a Rússia está mandando para a batalha.
Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, a necessidade de tropas ficou evidente. Em setembro daquele ano, o Grupo Wagner, que já analisei no blog (aqui e aqui), começou a recrutar em presídios. Yevgeny Prigozhin, então líder do grupo, ia pessoalmente oferecer liberdade em troca de seis meses no front — uma promessa que, como comentei no LinkedIn, escondia um jogo perigoso, até para ele próprio, com buscas em sua casa mais tarde. Desertar era arriscar a morte. Em 2023, o Ministério da Defesa russo assumiu, tornando o recrutamento oficial. Não era mais uma tática de milícia — era política de Estado. O que leva um país a buscar soldados nas prisões?
Em 2022, cerca de 40 mil presos lutavam pelo Wagner, segundo John Kirby, ex-Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA. Em abril de 2023, o Ministério da Defesa britânico estimou 10 mil recrutados só naquele mês. O impacto é ainda maior. Em outubro de 2023, Vsevolod Vukolov, Ministro da Justiça russo, disse que a população carcerária caiu de quase 700 mil, uma década atrás, para 266 mil. Olga Romanova, ativista, calcula que o Ministério da Defesa enviou cerca de 100 mil homens à Ucrânia. Em Krasnodar, a queda foi de 17,5% desde 2023, e pelo menos duas prisões fecharam, segundo o comissário Mark Denisov. Cada número carrega uma vida arrancada das celas para o inferno da guerra.
Na Ucrânia, esses homens, muitos sem preparo, enfrentam batalhas letais. Muitos ficam em campos sob drones, sem chance de voltar. Na Rússia, o vazio nas prisões cria outros problemas. Em Krasnodar, cadeias foram fechadas para “otimizar recursos”. Mas o que acontece com o sistema carcerário sem esses homens? E os que sobrevivem, voltam como? Pelas redes sociais, especialmente o Telegram muito utilizado pelos Russos, é possível perceber ex-combatentes tentando uma vida nova cheio de traumas. Outros detalhes como os vídeos dos drones ucranianos em batalha podem ser vistos pela mesma rede, não sendo aconselhável para pessoas sensíveis buscar esse tipo de conteúdo.
Olhar para essa guerra, com prisões virando quartéis, é ver o desespero em ação. Quantos desses homens, arrancados das celas, acreditaram numa nova chance, só para encontrar a morte? Quantas cadeias vazias mostram o preço de um conflito sem fim?
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