O Integralismo Brasileiro foi um movimento político de extrema-direita que marcou a história do Brasil na década de 1930. Inspirado pelo fascismo europeu, mas adaptado ao contexto nacional, o movimento pregava o ultranacionalismo, o conservadorismo, a defesa dos valores cristãos e a unidade do povo brasileiro sob o lema “Deus, Pátria e Família”. Neste artigo, exploraremos sua história, as mentes por trás da ideologia, os nomes mais influentes e algumas curiosidades que ajudam a compreender sua relevância e impacto.
História do Integralismo Brasileiro

O Integralismo surgiu em 7 de outubro de 1932, com a fundação da Ação Integralista Brasileira (AIB), liderada por Plínio Salgado, que lançou o Manifesto de Outubro. O movimento nasceu em um contexto de crise política e econômica, após a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, e em meio à polarização global entre fascismo e comunismo. Inspirado pelo fascismo italiano de Benito Mussolini, dois anos depois de visitar a Itália e conhecer o então primeiro-ministro Benito Mussolini, o Integralismo adaptou-se à realidade brasileira, rejeitando o racismo explícito do nazismo, mas mantendo traços autoritários, antiliberais e anticomunistas.
A AIB cresceu rapidamente, alcançando entre 600 mil e 1 milhão de adeptos no seu auge, em 1937. Seus membros, conhecidos como “camisas-verdes” devido aos uniformes, promoviam manifestações públicas, usavam a saudação “Anauê” (termo tupi que significa “você é meu irmão”) e adotavam o símbolo do sigma (∑), representando a soma e a unidade do povo brasileiro.
O movimento apoiou o golpe do Estado Novo em 1937, esperando cargos no governo de Vargas. No entanto, Vargas dissolveu todos os partidos, incluindo a AIB, levando os integralistas à clandestinidade. Em 1938, eles tentaram um levante armado contra Vargas, conhecido como Levante Integralista, que falhou, resultando na prisão de cerca de 1.500 membros e no exílio de Plínio Salgado em Portugal.
Embora tenha perdido força após o Estado Novo, o Integralismo nunca desapareceu completamente. A Frente Integralista Brasileira (FIB), fundada em 2004, e o Movimento Integralista e Linearista Brasileiro (MIL-B) mantêm os ideais de Salgado vivos, mas com pouca relevância política.

A transição da sociedade brasileira nos anos 1920 foi crucial para o surgimento do Integralismo. Eventos como a Semana de Arte Moderna (1922), a fundação do Partido Comunista Brasileiro e as rebeliões tenentistas desafiaram o sistema oligárquico da República Velha. A industrialização pós-Primeira Guerra Mundial, o crescimento das camadas médias urbanas e a crise ideológica das elites intelectuais fomentaram o nacionalismo, o modernismo e o espiritualismo católico. O antiliberalismo ganhou força com a Revolução de 1930, criando um vácuo político explorado por movimentos autoritários. Influências internacionais, como a Revolução Soviética e o fascismo europeu, radicalizaram o discurso. A Sociedade de Estudos Políticos (SEP), fundada em 1932 por Salgado, serviu como antecâmara ideológica, reunindo intelectuais fascistas e monarquistas para debater economia, pedagogia e política.
Expansão e Declínio
Em 1933, a AIB expandiu-se nacionalmente, com desfiles em capitais como Rio, Minas e Ceará. Congressos em Vitória (1934) e Petrópolis (1936) solidificaram sua estrutura. Em 1936, transformou-se em partido político, lançando Salgado como candidato presidencial. Conflitos com a Aliança Nacional Libertadora (ANL) em 1935 aceleraram adesões, mas o golpe de Vargas em 1937 dissolveu a AIB. O Plano Cohen, forjado por Olímpio Mourão Filho, justificou o Estado Novo.
Principais Mentes do Integralismo
O Integralismo foi moldado por intelectuais que adaptaram ideias fascistas ao contexto brasileiro. Suas mentes, ainda que controversas, foram fundamentais para a estruturação do movimento.
Plínio Salgado
- Papel: Fundador e líder supremo da AIB, considerado uma figura quase profética pelos integralistas.
- Contribuição: Autor do Manifesto de Outubro (1932), que delineou os princípios do Integralismo, como o nacionalismo, a democracia orgânica e o corporativismo. Sua visão espiritualista e católica moldou a ideologia, rejeitando o materialismo do liberalismo e do comunismo.
- Curiosidade: Durante sua viagem à Itália em 1930, Salgado conversou com Mussolini, que o aconselhou a criar um movimento intelectual antes de um partido político. Ele seguiu o conselho, fundando a Sociedade de Estudos Políticos (SEP) antes da AIB.
Gustavo Barroso
- Papel: Segundo nome mais importante da AIB, comandante das milícias e principal expoente do antissemitismo no movimento.
- Contribuição: Historiador e escritor, Barroso publicou mais de 70 obras e trouxe ao Integralismo um discurso conspiratório, atribuindo aos judeus a responsabilidade por problemas econômicos e sociais. Sua visão, porém, contrastava com a defesa da miscigenação racial do movimento.
- Curiosidade: Barroso foi um dos primeiros a traduzir Os Protocolos dos Sábios de Sião no Brasil, um texto antissemita que alimentava teorias conspiratórias.
Miguel Reale
- Papel: Jurista e terceiro na hierarquia da AIB, foi um jovem militante que participou da Revolução Constitucionalista de 1932.
- Contribuição: Defendia o modelo de Estado Integral, com um governo de partido único e uma sociedade hierarquizada. Mais tarde, tornou-se conhecido como o “pai” do Código Civil Brasileiro de 2002.
- Curiosidade: Reale rejeitava a classificação do Integralismo como fascista, argumentando que havia divisões internas no movimento. Ele se afastou do Integralismo após o Estado Novo, focando na carreira acadêmica.
Além dos líderes principais, outros nomes marcaram o Integralismo:
- Olimpio Mourão Filho: Capitão do Exército, redigiu o Plano Cohen, um documento falso que justificou o golpe do Estado Novo. Apesar de sua filiação à AIB, sua ação beneficiou Vargas.
- Severo Fournier: Liderou o Levante Integralista de 1938, atacando o Palácio Guanabara. O fracasso do golpe resultou em sua prisão.
- Goffredo Telles Junior: Jurista e professor, participou da AIB na juventude, mas depois se afastou, negando que o movimento fosse uniformemente fascista.
Curiosidades do Integralismo
- Símbolos e Rituais: Os integralistas criaram uma cultura própria, com escolas, jornais (como A Offensiva e Panorama), produtos como cigarros e creme dental com o símbolo do sigma, e até rituais de batismo, casamento e funeral. O “Vovô Índio” era uma versão brasileira do Papai Noel, rejeitando o simbolismo capitalista.
- Batalha da Praça da Sé (1934): Um confronto violento entre integralistas e socialistas em São Paulo resultou em mortes e na debandada dos “camisas-verdes”, que abandonaram seus uniformes, gerando o apelido pejorativo “galinhas-verdes”.
- Apoio ao Golpe de 1964: Após a dissolução da AIB, muitos ex-integralistas apoiaram o golpe militar de 1964, enquanto outros, como Santiago Dantas e Dom Hélder Câmara, migraram para a esquerda.
- Neointegralismo: Em 2019, um grupo autodenominado “Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira” assumiu a responsabilidade por um ataque à produtora Porta dos Fundos, mostrando a persistência de grupos radicais. A FIB, por outro lado, negou ligação com o incidente.
O Integralismo Hoje
Embora o Integralismo tenha perdido relevância política, grupos como a FIB continuam a promover seus ideais, focando em valores cristãos e nacionalistas. Historiadores, como Odilon Caldeira Neto e Leandro Pereira Gonçalves, apontam que o movimento ainda inspira setores da extrema-direita brasileira, com ecos em discursos políticos recentes.
Mais detalhes: Integralismo brasileiro – Wikipédia, a enciclopédia livre / O que foi (e ainda é) o integralismo brasileiro? | Super / | Atlas Histórico do Brasil – FGV / Quem são os integralistas, o fascismo brasileiro que mantém seguidores até hoje – BBC News Brasil / Integralismo | Frente Integralista Brasileira / Integralismo brasileiro e a circulação de ideias fascistas | Projeto História : Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História