O governo Lula quer taxar os rendimentos de aplicações financeiras em 17,5%, com 5% até pra LCIs e LCAs, que nunca pagaram imposto. Enviado ao Congresso em 2025, o projeto promete simplificar a tributação, mas acaba pesando no bolso de quem investe a longo prazo e reduz o dinheiro que irriga o agronegócio e a construção civil. Com a Selic a 14,75% e um ajuste fiscal que patina, a medida expõe um governo correndo atrás de receita sem resolver o rombo nas contas. Como isso mexe com seu dinheiro e com a economia?
O peso dos 17,5% no seu bolso
O que pouca gente sabe é que o projeto de lei, anunciado por Fernando Haddad em junho de 2025, troca a tabela regressiva de imposto na renda fixa — que cai de 22,5% pra 15% conforme o tempo de aplicação — por uma alíquota fixa de 17,5%. Hoje, quem deixa o dinheiro investido por mais de dois anos paga só 15%. Com a nova regra, esse cara leva uma mordida maior, enquanto quem resgata rápido ganha um desconto. É curioso perceber que a proposta parece ajudar quem vive de curto prazo, mas castiga quem planeja a aposentadoria ou quer construir patrimônio.
Essa mudança desestimula o investimento de longo prazo, que é o tipo de grana que financia coisas grandes, como fábricas, estradas ou usinas. Quando o incentivo pra poupar some, o dinheiro pode acabar indo pra fora do Brasil — já vimos isso em 2024, quando Haddad recuou de taxar offshores depois de uma debandada de capital. Bancos como o BTG Pactual já alertam que menos poupança interna deixa o país mais dependente de investidores gringos, que cobram caro pra botar dinheiro aqui. É como trocar um conserto sólido por um remendo rápido.
LCI, LCA e o freio no agro e na construção
LCIs e LCAs sempre foram o porto seguro de quem busca renda fixa. Além de seguras, com garantia do FGC até R$ 250 mil, elas eram isentas de imposto, o que turbinava o retorno. Agora, com 5% de IR, o que pouca gente sabe é que o lucro encolhe, e isso bate direto em dois gigantes da economia: o agronegócio e a construção civil. LCAs captam dinheiro pra financiar plantio, colheita e exportação de soja, milho, carne — o agro que puxou 2,9% do PIB em 2023. LCIs, por outro lado, bancam imóveis, de casas populares a prédios comerciais.
Com a taxação, o crédito fica mais caro. O Bradesco estima que o custo de financiamento no agro pode subir uns 2% a 3%, porque menos gente vai querer investir em LCA. No campo, isso significa menos máquinas, menos plantio, e talvez até comida mais cara lá na frente. Na construção, menos LCIs podem travar obras, reduzir empregos e encarecer moradia. O XP Asset prevê que investidores podem pular pras ações ou fundos imobiliários, que ainda têm vantagens fiscais, mas esses setores não substituem o crédito direto que LCIs e LCAs jogam na economia real. Uma medida pra engordar o caixa do governo pode emagrecer os setores que fazem o Brasil crescer.
Selic alta e o ajuste fiscal que não sai do papel
A Selic tá cravada em 14,75% em junho de 2025, com o Banco Central segurando os juros pra domar a inflação, que fechou 2024 em 4,83% e deve chegar a 5,5% este ano. A Selic alta e imposto novo formam uma dupla que encarece o crédito e esfria a economia.
O grande problema é que taxar mais não resolve o rombo das contas públicas. A dívida pública deve bater 84,2% do PIB até 2028, e o governo Lula, junto com o Congresso, insiste em aprovar gastos sem cortar nada relevante. Economistas como Marcos Mendes já chamaram isso de “empurrar o déficit com a barriga”, enquanto Marcos Lisboa aponta pra um “populismo fiscal” que ignora o futuro. É como se o governo quisesse tapar um buraco cavando outro. Com o real rondando R$ 5,80 e o mercado desconfiado, o projeto, ainda no Congresso, levanta uma simples pergunta: dá pra equilibrar as contas só aumentando imposto, sem um ajuste fiscal de verdade?