Ontem, após publicar o texto sobre a vida de Vladimir Putin (você pode ler o texto aqui), recebi rapidamente um e-mail de um leitor me perguntando algo que me pegou de surpresa: “Por que você não escreve nada contra Trump ou não faz análises críticas sobre os Estados Unidos?” E quer saber? Essa pergunta é válida.
De imediato, me lancei em pesquisas para encontrar as informações corretas sobre Donald Trump, o futuro presidente dos EUA, conhecido tanto pelo brilho das manchetes quanto pelas sombras de suas polêmicas. Todos sabemos que ele está envolvido em diversas denúncias. Mas quais são elas, exatamente? Elas são realmente graves ou estamos diante de mais fumaça do que fogo? E o que dizer sobre o passado de Trump, antes de se envolver com a política?
Hoje, vou tentar resumir as principais questões que cercam esse personagem tão controverso. Vamos nessa.
A Fortuna de Trump: Como Ele Ficou Rico
Quando o assunto é dinheiro, Trump gosta de deixar claro que ele sabe jogar – ou pelo menos quer que pensemos isso. Nascido em 1946, em Nova York, Donald John Trump era o quarto de cinco filhos de Fred Trump, um bilionário do setor imobiliário. Fred foi o grande alicerce financeiro da família, e, como o próprio Trump gosta de dizer (com uma boa dose de modéstia seletiva), ele começou sua jornada com um “pequeno empréstimo” de 1 milhão de dólares do pai.
“Pequeno” é relativo, não é? Com esse empurrão inicial e acesso aos negócios do pai, Trump mergulhou no mercado imobiliário de Nova York, expandindo o império da família. Ele apostou alto em hotéis, cassinos, edifícios de luxo e, claro, na icônica Trump Tower, inaugurada em 1983. Essa torre, em Manhattan, é tanto um símbolo de sua ambição quanto de sua extravagância. Mas nem tudo são brilhos e ouro. Trump também enfrentou falências de suas empresas, especialmente nos anos 90, quando seu império quase desabou como um castelo de cartas.
Aliás, vale mencionar: Trump sabe muito bem como usar as leis de falência para reestruturar dívidas. Quatro de suas empresas declararam falência – Atlantic City, por exemplo, viu seus cassinos passarem por altos e baixos dignos de uma roleta. E ele? Saiu com o charme intacto e a conta bancária, aparentemente, protegida. É aí que a gente se pergunta: gênio estratégico ou apenas um jogador astuto que sabe quando sair da mesa?
Mais detalhes: Donald Trump – Wikipédia, a enciclopédia livre / Os 16 sucessos e falências de Donald Trump – Jornal O Globo / Como Donald Trump superou quatro falências e continuou rico | Exame
Antes do Poder: Reality Show e Polêmicas
Trump não se contentava em ser apenas rico. Ele queria ser famoso – e conseguiu. Entre os anos 2000 e 2010, ele brilhou (ou debochou) como apresentador de The Apprentice, aquele reality show em que ele mandava as pessoas embora com um simples “You’re fired!”. O programa, além de elevar seu status de celebridade, reforçou a imagem de um empresário implacável e carismático – mesmo que, nos bastidores, surgissem acusações de comportamento tóxico e uma boa dose de exagero sobre sua real capacidade como homem de negócios.
E claro, antes de entrar na política, Trump já acumulava polêmicas de peso. Acusações de má conduta sexual, fraudes imobiliárias e até suspeitas de discriminação racial em seus empreendimentos habitacionais nos anos 70 já rondavam sua biografia. Ah, e ele adorava processar quem o criticava. Trump é daqueles que, se puder, joga tudo no tribunal e ainda sorri para as câmeras.
Mais detalhes: The Apprentice – Wikipédia, a enciclopédia livre / Racial views of Donald Trump – Wikipedia / Donald Trump’s Housing Discrimination Case Still Chases Him Decades Later : NPR / Trump é condenado a pagar US$ 355 milhões por fraude financeira | G1 / Trump obteve mais de US$ 1 bi com fraudes, diz Procuradoria – DW – 03/10/2023 / Trump depõe na Justiça por caso de fraude familiar | Exame / Trump’s civil fraud trial put his real estate portfolio under a microscope. These properties didn’t check out | The Independent
No Poder: Acusações e Questões Jurídicas
Quando Trump entrou para a política, em 2016, as controvérsias apenas mudaram de escala. Vamos listar algumas, porque acredite, não faltam:
Relação com a Rússia: Durante sua campanha e presidência, as suspeitas de conluio com a Rússia foram como um eco constante. A investigação de Robert Mueller não encontrou provas suficientes de conspiração, mas deixou muitas perguntas no ar. E nomes como Paul Manafort (ex-chefe de campanha de Trump) e Michael Flynn (ex-conselheiro de segurança nacional) apareceram em escândalos com tons russos. Além disso, houve encontros questionáveis com figuras russas, como Natalia Veselnitskaya, uma advogada conectada ao Kremlin. Coincidência? Estratégia? Ou algo mais sombrio?
Documentos confidenciais: Depois de deixar o cargo, Trump enfrentou uma tempestade legal por manter documentos confidenciais em sua casa, em Mar-a-Lago. Guardar segredos de estado no porão de casa soa como enredo de filme ruim, mas aqui estamos nós.
Pagamento de suborno: Stormy Daniels, uma atriz de filmes adultos, afirmou que recebeu dinheiro de Trump para silenciar uma relação extraconjugal antes das eleições. Se foi ou não verdade, Trump alegou que a história era “fake news”, mas o caso gerou barulho suficiente para dominar manchetes por meses.
Agora, vamos falar do que realmente pesa. Os casos de obstrução de justiça e tentativas de interferência nas eleições de 2020, especialmente no estado da Geórgia, são acusações sérias. Pedir para “encontrar votos” em um telefonema gravado não parece exatamente a melhor jogada, certo?
Já acusações fiscais e processos civis são mais leves – mas ainda assim incômodos. Trump foi multado em 1,6 milhão de dólares por fraude fiscal envolvendo a Trump Organization. Para ele, uma quantia pequena; para o resto do mundo, mais uma mancha no currículo.
Mais detalhes: A polêmica relação de Trump com a Rússia – BBC News Brasil / Obscura relação com a Rússia sacode o Governo de Donald Trump | EL PAÍS Brasil / O que se sabe sobre a polêmica relação de Trump com a Rússia / Quem é quem no megaescândalo da suposta ligação entre a Rússia e a campanha de Trump – BBC News Brasil / Quem é Paul Manafort, o homem que ajudou Trump a ser eleito – BBC News Brasil / Processo sobre documentos confidenciais de Trump é arquivado por juíza na Flórida / Relembre o caso dos documentos confidenciais de Donald Trump | CNN Brasil / Trump guardou documentos secretos no banheiro, revela investigação / Donald Trump condenado no caso Stormy Daniels: o que acontece agora? – BBC News Brasil / Sentença de Trump em caso de suborno é adiada indefinidamente, diz juiz | CNN Brasil
Curiosidades: Negócios, Polêmicas e Sua Relação com a Rússia
Aqui vai um detalhe curioso: Trump vendeu propriedades de luxo para bilionários russos muito antes de entrar na política. Um exemplo é Dmitry Rybolovlev, que comprou uma mansão na Flórida por 95 milhões de dólares. Coincidência ou apenas um negócio lucrativo? O fato é que sua relação com oligarcas russos sempre gerou sussurros e suspeitas.
Fora isso, sua vida empresarial está recheada de episódios peculiares. Trump já lançou de tudo: uma universidade que foi processada por fraude (Trump University), uma marca de bifes (sim, bifes!) e até uma linha de vodcas. Algumas ideias deram certo, outras viraram piadas prontas.
Uma outra curiosidade interessante sobre Donald Trump é que ele foi responsável por reformar completamente o Wollman Rink, a famosa pista de patinação e rampa de skate do Central Park, em Nova York. Na década de 1980, o projeto estava atrasado e enfrentava problemas, mas Trump assumiu a tarefa, utilizando um orçamento de US$ 3 milhões cedido pela prefeitura. Surpreendentemente, ele conseguiu terminar as obras dentro do prazo e ainda devolveu uma sobra de US$ 750 mil aos cofres públicos. Hoje, o Wollman Rink atrai mais de 5 milhões de visitantes por ano, tornando-se uma das atrações mais icônicas do parque.
Mais detalhes: Oligarca que comprou mansão Trump é investigado por corrupção em Mônaco | McClatchy Washington Bureau / O bilionário que comprou a mansão de Trump enfrenta escrutínio em Mônaco – The New York Times / Por que um russo pagou US$ 95 milhões para comprar a mansão de Trump em Palm Beach? | O Seattle Times / Donald Trump e o Wollman Rinking da política americana
Pode Isso Atrapalhá-lo no Poder?
Com a recente reeleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, prevista para iniciar em janeiro de 2025, surge uma questão: como as diversas acusações contra ele serão tratadas sob a ótica da imunidade presidencial?
A imunidade presidencial nos EUA é um conceito jurídico que protege o presidente em exercício de processos criminais por ações realizadas no desempenho de suas funções oficiais. Em julho de 2024, a Suprema Corte dos EUA decidiu que o presidente possui imunidade absoluta para atos dentro de sua autoridade constitucional e imunidade presumida para atos oficiais, mas não há imunidade para atos não oficiais.
No caso de Trump, essa distinção é crucial. Por exemplo, em dezembro de 2024, o juiz Juan Merchan rejeitou a tentativa de Trump de anular sua condenação no caso Stormy Daniels, determinando que ele não possui imunidade presidencial nesse assunto, pois as condutas em questão não eram atos oficiais.
Além disso, o procurador especial Jack Smith retirou duas acusações penais contra Trump, relacionadas à tentativa de reverter as eleições de 2020 e ao caso dos documentos classificados em Mar-a-Lago, após sua vitória nas eleições presidenciais de novembro de 2024. Essa ação baseia-se na doutrina do Departamento de Justiça dos EUA que proíbe acusações penais contra um presidente em exercício.
Portanto, enquanto Trump estiver no cargo, ele estará protegido contra processos criminais relacionados a atos oficiais. No entanto, acusações referentes a atos não oficiais ou anteriores ao seu mandato podem continuar a ser investigadas e potencialmente levadas a julgamento após o término de sua presidência. Essa complexa teia jurídica certamente influenciará a gestão de Trump, exigindo um equilíbrio delicado entre suas responsabilidades presidenciais e as questões legais pendentes.
Mais detalhes: Atribuição de imunidade absoluta imperial na Suprema Corte dos EUA / Procurador explica desistência de casos contra Trump: “Conflito de interesses“ | CNN Brasil