Você sabia que a Embrapa teve um papel crucial em transformar o Brasil em uma das maiores potências agrícolas do mundo? A Embrapa, ou Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, é um daqueles casos de sucesso que, quando a gente olha para trás, percebe o quão transformadora foi sua criação para o Brasil. Fundada em 1973, no auge da modernização do país, a empresa teve como objetivo central alavancar a produção agrícola nacional, algo que, até então, parecia um sonho distante para muitas regiões brasileiras. Mas, como foi que uma empresa de pesquisa pública conseguiu transformar o Brasil em uma das maiores potências agrícolas do mundo? Para responder essa pergunta, precisamos entender o contexto histórico, as pessoas envolvidas e o impacto econômico e social que a Embrapa gerou.
O Contexto Histórico e os Primeiros Passos
Nos anos 1970, o Brasil enfrentava desafios monumentais para alimentar sua própria população, que crescia rapidamente. O país importava alimentos básicos e não conseguia produzir em larga escala, principalmente por conta da baixa produtividade e da falta de tecnologias agrícolas adaptadas ao clima e solo brasileiros. Foi nesse cenário que surgiu a Embrapa, sob o governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, com uma missão bastante ousada: adaptar e desenvolver tecnologias capazes de transformar a agricultura no país.
Um dos nomes fundamentais por trás dessa visão foi o de Eliseu Alves, agrônomo e economista que acreditava que o Brasil tinha potencial para se tornar uma potência agrícola, mas precisava de investimento em pesquisa e inovação. Alves não apenas foi um dos fundadores da Embrapa, mas também liderou muitos dos esforços iniciais para garantir que a empresa tivesse os recursos e a autonomia necessários para desenvolver seu trabalho. Ele e sua equipe sabiam que o Brasil, com seu clima tropical, precisava de soluções próprias e não apenas de adaptações das tecnologias desenvolvidas em países de clima temperado.
Parcerias Internacionais
A Embrapa não cresceu sozinha. Nos primeiros anos, a empresa recebeu apoio fundamental de outros países, incluindo os Estados Unidos. Na década de 1970, o governo americano, através da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), colaborou com o Brasil para criar um sistema de pesquisa agrícola adaptado à nossa realidade. Além disso, vários cientistas brasileiros foram enviados para estudar em universidades e centros de pesquisa americanos e voltaram com conhecimento para aplicar e adaptar à realidade brasileira.
Outros países também contribuíram. Por exemplo, houve colaborações com a França e o Japão, tanto no envio de pesquisadores quanto no intercâmbio de tecnologias. Mas a Embrapa soube aproveitar esse apoio externo de uma maneira muito particular. Em vez de simplesmente importar as tecnologias, ela buscou adaptar e criar soluções específicas para as condições climáticas e de solo do Brasil, especialmente para o Cerrado, que até então era visto como improdutivo. É curioso pensar que uma região que, naquela época, era praticamente ignorada, hoje seja o coração da produção de grãos no Brasil.
A Transformação do Cerrado: O Grande Milagre Agrícola Brasileiro
Talvez o maior símbolo do sucesso da Embrapa seja a transformação do Cerrado. O Cerrado brasileiro, com seu solo ácido e pouco fértil, era visto como um grande desafio. Mas a Embrapa, através de pesquisas intensivas, desenvolveu técnicas de correção do solo com o uso de calcário e fertilizantes, além de novas variedades de grãos, como a soja tropical. Foi uma verdadeira revolução. Hoje, o Cerrado responde por mais de 50% da produção agrícola nacional.
Você já se perguntou o que seria do Brasil se o Cerrado tivesse permanecido uma região improdutiva? Esse impacto é difícil de medir, mas sem dúvidas, a atuação da Embrapa transformou a agricultura brasileira e consolidou o país como um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo. O Cerrado passou de uma região esquecida a um dos maiores polos de produção de soja, milho, algodão e carne do planeta.
O Impacto Econômico e Social da Embrapa
Mas como medir o impacto econômico da Embrapa? Vamos falar de números. Estima-se que a Embrapa tenha gerado, ao longo de sua história, um retorno econômico de cerca de R$ 60 bilhões por ano para a sociedade brasileira, segundo dados da própria empresa. E quando a gente compara isso com o investimento público que é feito na empresa, vemos que o retorno é extremamente positivo. A Embrapa custa, em média, cerca de R$ 3 bilhões anuais para o governo. É um dos melhores investimentos que o Brasil já fez em termos de custo-benefício.
Outro dado interessante é que a Embrapa ajudou a triplicar a produtividade agrícola no Brasil nas últimas décadas. No começo dos anos 1970, o Brasil produzia cerca de 30 milhões de toneladas de grãos por ano. Hoje, esse número ultrapassa os 270 milhões de toneladas, graças, em grande parte, ao desenvolvimento de tecnologias agrícolas adequadas às condições brasileiras. A Embrapa foi peça-chave nesse processo, desenvolvendo desde variedades de sementes resistentes ao clima tropical até tecnologias para manejo sustentável.
Com isso, vale refletir: que outros setores no Brasil poderiam se beneficiar de uma abordagem semelhante à da Embrapa? Será que poderíamos ter empresas públicas focadas em pesquisa e inovação em áreas como saúde, tecnologia e energia? E se investíssemos mais em ciência e tecnologia, o quanto poderíamos transformar outros setores estratégicos para o país?
A Embrapa nos mostra que, com visão, investimento e parcerias estratégicas, o Brasil é capaz de criar soluções que não apenas beneficiam o país, mas que também têm impacto no mundo. A trajetória da Embrapa é um verdadeiro exemplo de como a ciência e a tecnologia podem transformar realidades e construir o futuro de uma nação.
Leituras complementares:
DE CARLI, C. R. Embrapa: precursora da parceria público-privada no Brasil. 2005. 166 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável)
Alves, Eliseu. “Embrapa: um caso bem-sucedido de inovação institucional.” Revista de Política Agrícola, v. 19, jul. 2010, edição especial de aniversario do Mapa – 150 anos.
A trajetória do planejamento da pesquisa na Embrapa. 2014. Artigo de periódico.
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