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Brasil e Chile: Por que caminhos tão diferentes na América do Sul?

Sempre me pergunto: como dois países sul-americanos, com histórias de colonização, desafios parecidos e riquezas naturais impressionantes, podem ter destinos tão diferentes? De um lado, o Brasil, gigante por natureza, mas que muitas vezes parece tropeçar nas próprias pernas. Do outro, o Chile, um país menor, espremido entre a cordilheira dos Andes e o Pacífico, que conseguiu se destacar no desenvolvimento social e econômico da região. Não é curioso? Vamos explorar isso juntos.

Historicamente, o Brasil e o Chile tiveram trajetórias bem diferentes. O Brasil foi colônia de exploração, com economia baseada em monoculturas para exportação, como açúcar, café e, mais tarde, soja e minérios. Sempre dependemos de commodities, algo que até hoje ainda dita muito da nossa economia.

O Chile também tem essa pegada de exportação, especialmente de cobre, mas lá a coisa tomou outro rumo. Enquanto o Brasil passou boa parte da sua história lidando com desigualdades gritantes e tentando equilibrar as contas (sem sucesso, diga-se de passagem), o Chile passou por uma série de reformas estruturais que deram um norte mais estável ao país.

Por que ficamos pelo caminho?

O Brasil apostou em um modelo de industrialização por substituição de importações, principalmente entre os anos 1950 e 1980. A ideia era ótima no papel: produzir internamente o que antes importávamos. Mas aí veio o problema clássico: gastávamos mais do que tínhamos, e as crises de endividamento foram uma bola de neve. Sem falar na corrupção, que parecia estar incluída no pacote. Isso tudo jogou uma âncora pesada no crescimento brasileiro.

E tem mais: enquanto o Chile abriu sua economia, firmou acordos comerciais e diversificou suas parcerias, o Brasil insistia em fechar-se em uma bolha protecionista. Esse é um ponto importante no desenvolvimento de ambos.

Geopolítica

A geografia ajudou o Chile. Por ser um país relativamente pequeno e com uma economia focada em exportações, ele precisou criar laços fortes com mercados externos. Os tratados de livre comércio que o Chile assinou, especialmente com Estados Unidos, China e União Europeia, foram decisivos para garantir um fluxo constante de capital e investimentos.

Já o Brasil… Bem, o Brasil gosta de brincar de “ilha”, mesmo sendo um continente. Nossa diplomacia econômica tem momentos brilhantes, mas também passamos décadas achando que nosso mercado interno era suficiente. Essa autossuficiência imaginária nos isolou em várias ocasiões. Enquanto o Chile foi fazer negócios com meio mundo, ficamos tentando resolver nossos problemas internos, como uma eterna novela sem final feliz.

O papel das instituições: aqui, capengando; lá, bem engrenadas

Outra diferença gritante está nas instituições. No Brasil, é aquela história: criamos leis e políticas públicas interessantes, mas elas tropeçam na execução. Faltam continuidade, compromisso e, muitas vezes, transparência. Já o Chile investiu pesado em fortalecer suas instituições econômicas. O Banco Central chileno, por exemplo, é respeitado internacionalmente por sua independência e capacidade de manter a estabilidade.

E isso tem tudo a ver com confiança. Investidores internacionais querem saber que o dinheiro deles está em boas mãos. No Brasil, às vezes parecemos brincar de “vamos ver até onde podemos esticar a corda”. Já o Chile conseguiu criar uma reputação de seriedade que atraiu empresas e investidores de peso.

E os números? vamos comparar

Para ilustrar o abismo, vamos a alguns números recentes. O PIB per capita do Chile em 2023 era cerca de US$ 17.093, enquanto o do Brasil rondava US$ 10.043. Além disso, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Chile é o mais alto da América do Sul, enquanto o Brasil está vários degraus abaixo.

Brasil e Chile: comparações econômicas e sociais que revelam contrastes

Quando analisamos Brasil e Chile, dois países que compartilham o cenário sul-americano, as diferenças em índices sociais e econômicos se destacam e ajudam a entender as realidades contrastantes dessas nações. Os números trazem um panorama claro de onde cada um avançou e onde ainda enfrentam desafios.

Desenvolvimento Humano

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um termômetro de qualidade de vida, medindo indicadores como educação, saúde e renda. Em 2020, o Brasil apresentou um IDH de 0,6, enquanto o Chile atingiu 0,7. Essa diferença reflete avanços mais consistentes do Chile em áreas que impactam diretamente a qualidade de vida de sua população.

Saneamento Básico

O saneamento básico é outra área que expõe disparidades. No Brasil, apenas 50% da população tinha acesso a serviços adequados em 2022, contrastando com impressionantes 95% no Chile. Essa diferença não é só um número; ela representa a diferença entre saúde e vulnerabilidade em larga escala.

Desemprego

Em 2023, o Brasil teve uma taxa de 8%, enquanto o Chile alcançou 9%. No entanto, ao longo das décadas, o Chile manteve uma trajetória mais estável. Em 2022, por exemplo, o desemprego no Chile foi 8,3%, inferior aos 9,2% do Brasil.

Expectativa de Vida

O Chile também apresenta um desempenho muito superior em expectativa de vida. Em 2022, a expectativa ao nascer era de 80 anos, enquanto no Brasil era de 73 anos. Esse dado reflete não apenas avanços em saúde pública no Chile, mas também desigualdades persistentes no Brasil que afetam o acesso a cuidados médicos.

Desigualdade de Renda

A desigualdade de renda, medida pelo Coeficiente de Gini, revela que ambos os países enfrentam desafios, mas o Brasil está em uma posição bem pior. Em 2022, o Gini do Brasil foi de 0,52, enquanto o do Chile foi de 0,43. A diferença pode parecer pequena, mas reflete uma sociedade chilena com uma distribuição de renda um pouco mais equilibrada.

Segurança Pública

Os índices de homicídios também mostram um contraste impressionante. Em 2020, o Brasil registrou uma taxa de 22 homicídios por 100 mil habitantes, contra apenas 5 homicídios por 100 mil habitantes no Chile. Quando analisamos homicídios dolosos femininos, o Brasil teve uma taxa de 3,5, enquanto o Chile marcou 1. Essa disparidade grita por atenção, destacando a urgência de políticas públicas no Brasil.

Conectividade e Tecnologia

No acesso à internet, o Chile mais uma vez lidera. Em 2023, 94% da população chilena estava conectada, enquanto no Brasil, o número era de 84%. Essa diferença reflete investimentos consistentes em infraestrutura digital no Chile.

Investimentos Estrangeiros

Por fim, os investimentos estrangeiros diretos (IED) mostram o apetite do Chile em atrair capital externo. Em 2023, o Chile recebeu o equivalente a 6,5% do PIB em IED, enquanto o Brasil ficou em 3%. Essa diferença demonstra o sucesso do Chile em criar um ambiente de negócios mais atrativo e seguro para investidores globais.

Estes são alguns dados que coletei através do Banco Mundial. Todos os links para análise, inclusive de outros anos, estão disponíveis no final do texto.

Cooperações e Tratados Internacionais

Aqui entra um ponto interessante. Enquanto o Brasil muitas vezes contou apenas consigo mesmo, o Chile soube se abrir para cooperações internacionais. Os tratados comerciais foram fundamentais, mas também houve apoio técnico de organizações internacionais.

E tem mais: o Chile diversificou suas exportações. Não é só cobre, apesar de ser o carro-chefe. Vinho, frutas, salmão… Eles criaram uma economia que conversa com o mercado global. Já o Brasil, embora tenha uma economia mais diversificada, ainda depende muito de soja, minério de ferro e petróleo. E essa dependência nos torna vulneráveis aos humores do mercado internacional.

O Comércio entre Brasil e Chile

A relação comercial entre Brasil e Chile é uma das mais importantes na América do Sul. O Brasil exporta principalmente combustíveis minerais, veículos, carne e produtos químicos para o Chile, enquanto importa alimentos, bebidas e minerais. Essa parceria é facilitada por acordos como o ACE 35, que elimina tarifas entre os dois países, e pela infraestrutura moderna do Chile, com destaque para seus portos eficientes.

O Chile com alto poder aquisitivo e urbanização avançada, é um mercado estratégico para produtos brasileiros. A relação não só fortalece os laços econômicos, mas também amplia a integração entre as duas nações.

Então, por que o Brasil ficou para trás?

A grande pergunta é: por que o Brasil, com tanto potencial, não consegue deslanchar? Será que nos acostumamos com o “jeitinho”? Será que preferimos sempre adiar as reformas importantes porque o custo político é alto? Enquanto isso, o Chile, mesmo com seus desafios, fez o dever de casa. E cá entre nós, é doloroso admitir, mas talvez o Brasil tenha se perdido em sua grandiosidade. Ser grande demais às vezes é uma maldição, não uma bênção.

No fim das contas, o Chile nos dá uma lição importante: não é o tamanho do território ou a quantidade de recursos naturais que define o sucesso de um país, mas sim a capacidade de se organizar, planejar e executar. Será que algum dia vamos aprender isso? Ou continuaremos repetindo os mesmos erros, enquanto assistimos nossos vizinhos menores nos ultrapassarem?

Fontes:

PIB per cápita (US$ a precios actuales) – Chile, Brazil | Data

Chile colonial – Wikipédia, a enciclopédia livre

Mercosul – Chile (ACE 35) — Siscomex

Manual sobre o Acordo de Livre Comércio Brasil-Chile – Observatório da Indústria

Brasil cai em ranking de desenvolvimento humano global; veja lista

Chile’s Top Exports 2023

Dados do Banco Mundial:

Índice de Capital Humano (escala de 0 a 1) – Chile, Brazil | Data

Foreign direct investment, net inflows (% of GDP) – Chile, Brazil | Data

Intentional homicides (per 100,000 people) – Chile, Brazil | Data

Intentional homicides, female (per 100,000 female) – Chile, Brazil | Data

Individuals using the Internet (% of population) – Chile, Brazil | Data

People using safely managed sanitation services (% of population) – Chile, Brazil | Data

Gini index – Chile, Brazil | Data

Unemployment, total (% of total labor force) (modeled ILO estimate) – Chile, Brazil | Data

Life expectancy at birth, total (years) – Chile, Brazil | Data

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