Vamos falar sobre um tema que raramente vejo ser discutido com profundidade: a astropolítica. Hoje é dia de mais um grande marco na exploração espacial. O Starship, maior foguete do mundo, desenvolvido pela SpaceX, tem lançamento programado para as 19h (horário de Brasília). Um evento como esse não é apenas um espetáculo tecnológico, mas também um lembrete de que o espaço está se tornando o centro de uma nova disputa pelo poder.
Você sabia que, durante um bom tempo, os Estados Unidos – a maior potência militar e econômica do mundo – tiveram que pegar carona com os russos para mandar astronautas ao espaço? Pois é. Entre 2011 e 2020, quando a NASA aposentou o programa do ônibus espacial, a única maneira de levar gente para a Estação Espacial Internacional (ISS) era com os foguetes russos Soyuz. E adivinha? Cada assento custava cerca de US$ 90 milhões. Mais caro que uma suíte presidencial de luxo, só que sem a gravidade para segurar seu champanhe.
Mas o jogo mudou, e mudou rápido. Com a chegada da SpaceX e seus foguetes reutilizáveis, enviar coisas – e pessoas – ao espaço ficou muito mais barato. A SpaceX, fundada pelo excêntrico Elon Musk (o cara que quer colonizar Marte e twitta memes enquanto isso), virou o que podemos chamar de “Uber Espacial”. E isso, claro, transformou o espaço não só em um destino mais acessível, mas também em um novo campo de disputas geopolíticas. O que antes era só ciência virou economia, estratégia e, como não poderia deixar de ser, política. Ou melhor, astropolítica.
Sim, a geopolítica também chegou às estrelas. Se você acha que o espaço é só uma grande tela para o avanço da ciência, é hora de repensar.
Ao final deste texto, vou sugerir links de transmissão ao vivo para você acompanhar o lançamento do Starship, além de indicar alguns canais brasileiros que sigo e onde me mantenho informado sobre o tema. Mas, antes disso, vamos mergulhar no fascinante – e cada vez mais disputado – universo da astropolítica.
De Onde Viemos: A Era de Ouro da Exploração Espacial
A exploração espacial começou como uma competição cheia de testosterona entre os Estados Unidos e a União Soviética durante a Guerra Fria. Você provavelmente já ouviu falar do Sputnik, o primeiro satélite artificial, lançado pelos soviéticos em 1957, ou do lendário Yuri Gagarin, que se tornou o primeiro homem no espaço em 1961. Isso deixou os americanos mordidos, e eles reagiram com força total. Em 1969, a NASA colocou Neil Armstrong e Buzz Aldrin na Lua com o programa Apollo. Um “pequeno passo para o homem”, mas um salto gigantesco no placar dos EUA contra a URSS.
Mas toda essa brincadeira custava caro. Só para você ter uma ideia, o programa Apollo saiu por cerca de US$ 25 bilhões na época, o que, ajustado para os valores de hoje, seria algo em torno de US$ 150 bilhões. Dá para imaginar? E isso foi antes de inventarem foguetes reutilizáveis. Naquela época, cada lançamento era como fazer um avião comercial e jogá-lo no oceano após o primeiro voo.
Quando os Russos Salvaram os Americanos
Após o fim do programa Apollo, os EUA focaram no ônibus espacial, um veículo reutilizável – pelo menos em parte. Só que ele também tinha seus problemas, como o custo altíssimo de manutenção e, tragicamente, acidentes fatais. Em 2011, o programa foi encerrado, deixando os Estados Unidos sem um veículo próprio para enviar astronautas ao espaço.
Enquanto isso, os russos seguiam firme com os confiáveis (mas antiquados) foguetes Soyuz. E aí vem a ironia: durante anos, os americanos, que haviam “ganhado” a corrida espacial ao chegar na Lua, dependeram dos russos para acessar a ISS. A tensão geopolítica entre os dois países transformava cada pagamento pelos assentos nos Soyuz em uma mistura de necessidade e humilhação estratégica.
A Revolução da SpaceX: O Espaço Fica Mais Barato
E foi aqui que entrou a SpaceX. Fundada em 2002, a empresa de Elon Musk tinha uma ideia que, à primeira vista, parecia absurda: criar foguetes que pudessem ser reutilizados, reduzindo drasticamente os custos de lançamento. Em 2015, a SpaceX conseguiu pousar o primeiro estágio do Falcon 9, algo que parecia saído de um filme de ficção científica. Hoje, um lançamento com o Falcon 9 custa cerca de US$ 67 milhões, uma fração do que a NASA gastava no passado. Só para comparação, o custo médio de um lançamento com o ônibus espacial era de aproximadamente US$ 1,5 bilhão. Isso mesmo: estamos falando de uma redução de mais de 95% nos custos.
E não é só sobre dinheiro. Essa redução nos custos tornou o espaço acessível para empresas privadas, universidades e até startups. Lembra quando só governos lançavam satélites? Hoje, temos empresas como a Amazon, do Jeff Bezos, entrando no mercado com a Blue Origin, enquanto a SpaceX lidera projetos como o Starlink, que promete cobrir o mundo inteiro com internet de alta velocidade.
Bem-vindo à Astropolítica: A Nova Geopolítica do Espaço
Agora, vamos ao ponto que realmente me intriga: o espaço não é mais só sobre ciência ou exploração. Ele virou uma extensão das disputas terrestres. E esse fenômeno tem um nome – astropolítica. Pense no espaço como um novo território para disputas de poder. Países e empresas estão lutando por posições estratégicas em órbita, pela exploração de recursos em asteroides e até pela militarização do espaço.
Os Estados Unidos criaram a Força Espacial em 2019, algo que parece saído de um filme de comédia, mas é bem sério. A China, por sua vez, não está ficando para trás. Eles lançaram sua própria estação espacial, a Tiangong, e já demonstraram capacidade de destruir satélites em órbita, um movimento que preocupa tanto estrategistas quanto economistas. A Rússia, claro, segue na briga, e agora temos até potências emergentes, como a Índia, mostrando suas ambições espaciais.
Pergunte-se: quem controla o espaço? Quem tem o direito de minerar um asteroide ou estabelecer uma base na Lua? A legislação internacional, como o Tratado do Espaço Exterior de 1967, tenta regular essas atividades, mas ele foi escrito em uma época muito diferente. Hoje, o espaço é visto como a próxima fronteira da economia e da segurança global. A corrida armamentista agora tem órbitas, não fronteiras terrestres.
O Futuro: O Espaço Como Mercado e Como Campo de Batalha?
É fascinante e assustador pensar que o espaço, antes domínio exclusivo de superpotências e cientistas, agora é um mercado e, potencialmente, um campo de batalha. Com o custo dos lançamentos caindo, empresas privadas e nações menores estão entrando na disputa. E se isso é bom para o avanço tecnológico, também aumenta os riscos de conflitos – inclusive armados – em órbita.
O que me pergunto é: estamos prontos para lidar com as implicações dessa nova era? Será que o espaço vai se tornar um terreno para cooperação ou para mais divisões? Uma coisa é certa: a exploração espacial nunca foi tão empolgante, mas também nunca foi tão crucial para o futuro da política global.
E você? Já parou para imaginar como será viver em um mundo onde o espaço é tão disputado quanto as terras aqui embaixo? Pois eu aposto que as respostas – e as perguntas – vão continuar nos surpreendendo.
Aqui vou deixar o link de alguns canais brasileiros no Youtube onde vocês podem acompanhar o mundo da exploração espacial:
Fontes e leituras complementares:
Astropolítica – Wikipédia, a enciclopédia livre
Falcon 9 – Wikipédia, a enciclopédia livre
Blue Origin – Wikipédia, a enciclopédia livre
Programa Apollo – Wikipédia, a enciclopédia livre
Tratado do Espaço Sideral – Wikipédia, a enciclopédia livre
Tratado do Espaço Exterior – 27 de janeiro de 1967
Força Espacial dos Estados Unidos – Wikipédia, a enciclopédia livre
Força Espacial dos Estados Unidos – Wikipédia, a enciclopédia livre
Estação Espacial Tiangong – Wikipédia, a enciclopédia livre
Recursos espaciais : governança ou astropolítica no Século XXI
Estação Espacial Internacional – Wikipédia, a enciclopédia livre
ESA – The Russian Soyuz spacecraft
Soyuz – Wikipédia, a enciclopédia livre
A bordo da Soyuz! – Espaço do Conhecimento UFMG