Se existe um nome que resume o futuro da tecnologia global hoje, esse nome é ASML. A empresa holandesa, que muitos nem conhecem, é a espinha dorsal da produção de chips avançados no mundo. Sem ela, não há inteligência artificial de ponta, não há supercomputadores eficientes, não há celulares topo de linha nem qualquer outro avanço que dependa dos semicondutores mais modernos. E o mais curioso? Ninguém consegue replicar o que ela faz.
A ASML não é apenas uma empresa poderosa; ela detém um monopólio absoluto sobre a tecnologia de litografia ultravioleta extrema (EUV), que permite a fabricação dos chips mais avançados do planeta. Essa tecnologia é tão complexa que cada uma dessas máquinas custa mais de US$ 200 milhões e tem mais de 100 mil componentes. Só para se ter uma ideia, uma dessas máquinas pode levar até um ano para ser fabricada e precisa de aviões de carga para ser transportada. É como se a ASML tivesse a única chave capaz de abrir a porta para o futuro da computação – e ninguém mais soubesse fazer outra igual.

Agora, pense no impacto disso na briga tecnológica entre Estados Unidos e China. O governo americano, de olho nessa vantagem estratégica, impôs restrições severas para impedir que a ASML venda suas máquinas mais avançadas para empresas chinesas. A lógica é simples: sem esses equipamentos, a China não consegue produzir chips de última geração e fica para trás na corrida tecnológica. Washington já convenceu o governo holandês a barrar a exportação dos modelos mais sofisticados, em um movimento que pode redefinir o equilíbrio de poder no setor de semicondutores.
O problema é que a China não está disposta a ficar parada. Empresas chinesas, como a SMIC, estão investindo pesado para tentar desenvolver suas próprias tecnologias de litografia, mas ainda estão anos atrás da ASML. Ao mesmo tempo, Pequim busca formas alternativas de contornar as restrições, seja por meio de aquisições estratégicas ou espionagem industrial. Afinal, nesse jogo de xadrez, ninguém quer ficar sem suas peças mais valiosas.
E a ASML, como fica nessa história? A empresa está no meio do fogo cruzado. Por um lado, os EUA são um mercado essencial, e a pressão política para seguir as diretrizes americanas é forte. Por outro, a China representa uma fatia considerável do faturamento da ASML, e perder esse mercado significa uma queda significativa nas vendas. Para complicar ainda mais, a Europa, onde a empresa está sediada, precisa equilibrar seus próprios interesses econômicos e geopolíticos. Afinal, se a ASML perder competitividade ou for forçada a restringir muito suas vendas, o impacto será sentido em toda a economia europeia.
Em 29 de janeiro de 2025, a ASML divulgou seus resultados financeiros para o ano de 2024, registrando vendas líquidas totais de €28,3 bilhões e um lucro líquido de €7,6 bilhões. No quarto trimestre, as vendas líquidas foram de €9,3 bilhões, com margem bruta de 51,7% e lucro líquido de €2,7 bilhões. A empresa projeta para o primeiro trimestre de 2025 vendas líquidas entre €7,5 bilhões e €8,0 bilhões, com margem bruta estimada entre 52% e 53%. Para o ano de 2025, a expectativa é alcançar vendas totais entre €30 bilhões e €35 bilhões, mantendo a margem bruta na faixa de 51% a 53%.

A região de Eindhoven, onde fica a sede da ASML, é um dos polos tecnológicos mais importantes da Europa. O crescimento da empresa gerou uma rede de fornecedores, startups e centros de pesquisa que dependem diretamente do seu sucesso. A cada máquina vendida, milhões de euros circulam pela economia local, fortalecendo o ecossistema de inovação. Se as restrições comerciais prejudicarem o crescimento da ASML, o efeito cascata pode ser devastador para a indústria de alta tecnologia europeia.
E aí vem a grande questão: quem precisa mais de quem? A ASML precisa da China para continuar crescendo? Ou a China precisa mais da ASML para não ficar tecnologicamente estagnada? Os EUA podem sustentar sua liderança sem uma ASML competitiva? São perguntas sem respostas fáceis, mas que definirão os rumos da tecnologia global nas próximas décadas.
O que sabemos é que a ASML não é apenas uma empresa. É um símbolo do que a tecnologia pode fazer quando está nas mãos certas – e do caos que pode gerar quando se torna uma peça-chave no tabuleiro da geopolítica.
Fonte: ASML (empresa) – Wikipédia / ASML reports €28.3 billion total net sales and €7.6 billion net income in 2024 / Our history | ASML – Supplying the semiconductor industry / 5 things you should know about High NA EUV lithography