Num momento em que as atenções se voltam para os eventos olímpicos e atletas do mundo todo, acho importante recordar um fato frequentemente esquecido. Ao revisitar esse evento, é impossível não traçar paralelos com as Olimpíadas de 2024 na França e os contínuos desafios geopolíticos e religiosos que Israel enfrenta até hoje.
A maior tragédia de todas as Olimpíadas aconteceu na Alemanha, em Munique, em 1972, quando os conflitos entre Israel e os árabes levaram um grupo terrorista a sequestrar e matar 11 membros da equipe israelense diante das câmeras para o mundo todo. Muitos desconhecem esse ataque terrorista em plena Olimpíada, e é por esse ataque e diversas outras perseguições que ainda acontecem nos dias de hoje que a equipe dos atletas de Israel é a mais visada e protegida das Olimpíadas.
Como um dos momentos mais sombrios das Olimpíadas, o ataque terrorista do grupo intitulado ‘Setembro Negro’ em Munique, 1972, ainda ressoa nas memórias e nas políticas de segurança mundial.
O Ataque e a Reação de Israel
O ataque começou na madrugada do dia 5 de setembro de 1972, quando oito terroristas do Setembro Negro – afiliado à Organização para a Libertação da Palestina (OLP) – pularam a cerca da Vila Olímpica e invadiram os quartos dos atletas israelenses. Eles mataram dois atletas imediatamente e fizeram outros nove membros da equipe reféns, exigindo a libertação de 234 prisioneiros palestinos detidos em Israel e a libertação dos líderes da organização alemã Fração do Exército Vermelho, Andreas Baader e Ulrike Meinhof. Esse ataque foi um golpe profundo para Israel, que, já na época, enfrentava tensões geopolíticas intensas com seus vizinhos árabes.
O mundo inteiro assistiu, enquanto a situação se desenrolava ao vivo pela TV. A tentativa de resgate da polícia alemã foi um desastre, resultando na morte de todos os reféns, além de cinco dos terroristas e um policial. Umaoperação de resgate mal sucedida no aeroporto de Fürstenfeldbruck, perto de Munique. O objetivo do grupo era forçar a libertação de prisioneiros palestinos detidos em Israel e em outros países. No entanto, o que começou como uma operação de sequestro se transformou em um dos episódios mais sangrentos da história olímpica. Após um tenso impasse e uma tentativa fracassada de resgate pela polícia alemã, todos os reféns israelenses foram mortos.
Sob o comando da primeira-ministra Golda Meir, o governo israelense autorizou a Mossad, o serviço secreto do país, a iniciar a “Operação Cólera de Deus” (ou “Operação Ira de Deus”). O objetivo era claro: encontrar e eliminar todos os responsáveis pelo massacre de Munique. Durante anos, a Mossad perseguiu os membros do Setembro Negro em vários países, eliminando os envolvidos de forma precisa.
Conectando com as Olimpíadas de 2024 e os Conflitos Atuais
As Olimpíadas de 2024 nos fazem lembrar dos eventos de Munique, especialmente num momento em que o mundo ainda lida com ameaças terroristas e tensões internacionais. Israel, mais uma vez, está no centro de muitos desses conflitos, principalmente com o Hamas, um grupo que continua sendo uma grande ameaça para o país. Nos últimos meses, Israel intensificou suas operações para neutralizar líderes do Hamas, de uma maneira que lembra muito a determinação mostrada após 1972.
A recente caçada aos líderes do Hamas, que resultou na eliminação de vários deles, mostra como Israel ainda mantém a mesma política: não deixar ataques contra seu povo passarem impunes. A operação para eliminar os responsáveis pelo massacre de Munique se estendeu por vários anos e é frequentemente citada como um exemplo de como o país lida com ameaças à sua segurança nacional.
A Ideologia do Hamas e Sua Visão Sobre Israel
Essa estratégia de neutralização de líderes terroristas não se restringiu ao episódio de Munique. Ao longo das décadas, Israel continuou a utilizar operações direcionadas para combater ameaças, especialmente contra grupos como o Hamas. Nos últimos anos, a Mossad, em conjunto com as Forças de Defesa de Israel (IDF), intensificou suas operações para neutralizar líderes do Hamas, que continua a ser uma ameaça constante para Israel.
Ao analisar a constituição do Hamas, ou “Carta de Princípios” como é conhecida, fica evidente que o grupo possui uma visão extremista e inflexível em relação a Israel e ao povo judeu. Ao ler e refletir sobre esse documento, não consigo deixar de notar a clareza com que o Hamas expõe sua intenção de eliminar Israel. O texto não deixa margens para dúvida: o Hamas não reconhece o direito de Israel de existir e busca sua completa destruição.
A constituição do Hamas, publicada em 1988, é um documento que mistura fundamentos religiosos e uma visão política radical. O documento afirma que a Palestina é uma terra islâmica que não pode ser cedida ou negociada, e descreve a jihad como um dever religioso para libertar essa terra. Isso inclui, explicitamente, a eliminação de Israel. Para o Hamas, a existência de Israel é uma afronta, e a luta contra o estado israelense é apresentada como uma obrigação sagrada. Enquanto essa ideologia permanecer inalterada, o conflito continuará a ser uma realidade dolorosa para ambos os lados.
Esse objetivo de eliminar Israel não é apenas teórico. Ao longo dos anos, o Hamas realizou diversos ataques contra civis israelenses, incluindo atentados suicidas, lançamentos de foguetes e incursões militares. O Hamas não busca uma solução pacífica ou uma coexistência negociada; sua meta é a destruição de Israel e a substituição do estado israelense por um estado palestino governado sob a lei islâmica.
Um exemplo claro dessa postura é o conflito de 2006, quando o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas e assumiu o controle da Faixa de Gaza. Desde então, o grupo intensificou os ataques contra Israel, utilizando Gaza como uma base de operações para lançar foguetes e planejar ataques. O bloqueio imposto por Israel e pelo Egito, que visa conter o fluxo de armas para o Hamas, é frequentemente citado como uma das razões para o conflito, mas a raiz do problema é muito mais profunda, estando enraizada na ideologia do grupo.
Quando olhamos para trás, percebemos que os desafios enfrentados por Israel em 1972 não são muito diferentes dos que o país enfrenta hoje. O ataque do Setembro Negro nas Olimpíadas de Munique foi um lembrete cruel de como o extremismo pode aparecer nos momentos mais inesperados. Agora, em 2024, com as Olimpíadas de Paris, a segurança continua sendo uma grande preocupação, especialmente para países como Israel, que têm uma longa história de conflitos e ameaças.
E isso nos lembra como, mesmo depois de tanto tempo, os desafios para garantir a segurança e a paz continuam enormes, num cenário global que ainda é cheio de complexidades e tensões.