Olá, pessoal! Como bacharel em Relações Internacionais, sempre gosto de trazer para vocês ideias que marcaram meus estudos e que ainda ecoam no mundo de hoje. Um desses clássicos é “O Fim da História e o Último Homem“, escrito por Francis Fukuyama em 1992, uma leitura que peguei na faculdade e que me fez pensar bastante sobre política, economia e o rumo da humanidade. O livro foi publicado logo após o fim da Guerra Fria e traz uma tese bem ousada: a democracia liberal, com seu jeitão de eleições livres e economia de mercado, seria o ponto final da evolução dos sistemas políticos. Bora explorar isso, começando pelo que ele disse, passando pelas polêmicas que a ideia gerou e chegando ao que vemos no mundo hoje, com um olho especial na China como contraponto.
A Tese de Fukuyama: o mundo chegou ao fim (mas não como você pensa)
Imagine o seguinte: Fukuyama olhou para o colapso da União Soviética e disse que a história, no sentido de uma grande disputa entre ideias de governo, tinha acabado. Não que o mundo fosse virar um mar de rosas sem conflitos, mas que a democracia liberal — aquele modelo com liberdade individual, direitos políticos e capitalismo — tinha vencido de lavada. Fascismo? Derrotado na Segunda Guerra. Comunismo? Caiu com o Muro de Berlim (já falamos sobre isso aqui). Para ele, não havia mais um sistema rival à altura.
Ele se inspirou em Hegel, um filósofo que via a história como uma estrada com um destino final, e jogou na mesa o conceito de thymos, essa vontade humana de ser reconhecido, que a democracia supostamente satisfaz ao dar voz a todos. E tem mais: Fukuyama também pegou um ideia de Nietzsche e falou do “último homem”, um tipo que vive numa sociedade pacífica e confortável, mas sem grandes causas para lutar, quase como se estivesse meio perdido no tédio. O recado era claro: o futuro seria a democracia liberal se espalhando pelo mundo, como um padrão que todos acabariam seguindo.
Onde ele acertou e onde errou
Vamos dar um crédito ao Fukuyama: na época, o otimismo fazia sentido. O fim da Guerra Fria realmente parecia um golaço do Ocidente, com países do Leste Europeu abraçando eleições e mercados livres. Ele acertou ao prever que a democracia liberal ia se tornar um modelo desejado por muita gente — pense na expansão da União Europeia ou nas ondas de democratização na América Latina nos anos 90.
Mas nem tudo foram flores. Fukuyama não contava com alguns percalços no caminho. Ele imaginou que o mundo ia convergir direitinho para esse modelo, mas subestimou a força de outras ideias e culturas. O terrorismo em diversos países, mostrou que conflitos não acabariam tão fácil. E o autoritarismo? Esse bicho não morreu. Além disso, ele não viu que as próprias democracias liberais podiam tropeçar feio, com polarização, desigualdade e desconfiança nas instituições, coisas que a gente vê nos EUA e na Europa atualmente.
As controvérsias: nem todo mundo comprou a ideia
A tese de Fukuyama mexeu com os ânimos e levantou um monte de críticas. Alguns disseram que ele foi otimista demais, achando que nada ia desafiar o domínio da democracia. Samuel Huntington, por exemplo, rebateu com O Choque de Civilizações, apostando que o futuro seria de embates culturais, não de uma paz democrática (já escrevemos sobre isso aqui). Outros apontaram um certo “nariz empinado” ocidental na teoria, como se todo mundo quisesse copiar o modelo do Ocidente, ignorando que lugares como o mundo islâmico ou a Ásia poderiam preferir caminhos próprios (já escrevemos sobre isso aqui, aqui, aqui e aqui).
E tem mais: ele não deu muita bola para as crises internas das democracias. Quem diria que, anos depois, a gente ia ver eleições questionadas nos EUA ou o populismo ganhando força na Europa? A ideia de que a história tinha “acabado” soou meio ingênua quando guerras étnicas, nacionalismos e o terrorismo global continuaram dando as caras.
O mundo hoje: democracia em xeque e a China no jogo
Agora, vamos trazer isso para 2025 e ver como o tabuleiro está montado. Segundo o relatório Freedom in the World 2024, da Freedom House, a liberdade global está em queda há 18 anos seguidos. São 52 países perdendo direitos políticos e liberdades civis, contra só 21 que melhoraram. Conflitos como os da Ucrânia e Gaza, além de eleições manipuladas em vários cantos, mostram que a paz democrática está longe de ser realidade. O Democracy Index 2023, da Economist Intelligence Unit, também não anima: a pontuação média global caiu para 5,23, o pior desde 2006.
E aí entra a China, que bagunça de vez a tese. Enquanto Fukuyama apostava que o sucesso econômico levaria à democracia, os chineses provam o contrário (já escrevemos sobre isso aqui). Com um governo de partido único e controle firme, o país virou a segunda maior economia do mundo sem abrir mão do controle da economia através do partido chines. Estudos do CSIS mostram que, embora alguns chineses curtam ideias liberais, o modelo estatal segue forte, oferecendo estabilidade e crescimento sem eleições livres. É um tapa na cara da ideia de que o capitalismo só funciona com democracia.
Comparando os modelos
Para ajudar a visualizar, montei uma tabela simples:
Aspecto | Democracia Liberal | Modelo Chinês | O Que Isso Diz |
---|---|---|---|
Sistema Político | Eleições livres, direitos individuais | Partido único, controle estatal | A democracia não é o único caminho |
Sucesso Econômico | Alto, com mercado livre | Alto, com planejamento estatal | Prosperidade não exige liberdade |
Estabilidade Social | Pode ter polarização | Controle rígido, menos pluralismo | Ordem pode atrair mais que caos |
Perspectiva Futura | Convergência para democracia | Pode durar ou mudar devagar | A história ainda está rolando |
Olhando assim, a democracia liberal tem seus encantos — liberdade, participação, inovação —, mas o modelo chinês mostra que dá para crescer e manter ordem sem abrir o jogo político. Fukuyama diria que, no fundo, as pessoas querem ser reconhecidas, e só a democracia faz isso direito. Mas será que o conforto e a segurança que a China oferece não estão seduzindo mais gente?
A história acabou mesmo?
Fukuyama ainda defende sua tese, como em artigos recentes no The Atlantic, dizendo que a democracia liberal segue sendo o melhor sistema, mesmo com percalços. Em After the End of History, ele até atualiza o papo, falando de identidade e tecnologia, como IA e biotecnologia, que podem mexer com nosso futuro. Mas os números e o mundo real mostram que a história ideológica está bem viva, com autoritarismos dando trabalho e democracias se debatendo para se manter relevantes.
Para mim, o livro é um convite a pensar: será que existe mesmo um “fim” para o jeito que a gente organiza as sociedades? Ou será que estamos só no meio da estrada, com curvas que nem Fukuyama imaginou? Quero saber o que vocês acham — deixem aí nos comentários!
Você pode comprar o livro aqui.
Fontes sobre o autor: Francis Fukuyama – Wikipédia / Francis Fukuyama
Mais detalhes
Aqui estão as fontes que usei para embasar o texto, com links e uma breve descrição:
- Freedom in the World 2024 – Relatório anual que avalia a liberdade política e civil no mundo, mostrando o declínio global.
- Our World in Data – Democracy – Dados históricos sobre a expansão e os retrocessos da democracia.
- Democracy Index 2023 – Índice da Economist Intelligence Unit que mede a saúde das democracias globais.
- CSIS – Public Opinion in China – Análise sobre as preferências políticas dos chineses e a força do modelo autoritário.
- The Atlantic – Still the End of History – Artigo de Fukuyama revisitando sua tese em 2022.
- After the End of History – Livro mais recente dele, explorando temas atuais como identidade e tecnologia.
- Wikipedia – The Clash of Civilizations – Resumo da teoria de Huntington, que rebate Fukuyama.
Se quiserem se aprofundar, é só clicar nos links!
1 thought on “A Tese do “Fim da História”: Conheça a Teoria de Fukuyama sobre o Triunfo da Democracia e do Liberalismo Econômico”