A Europa está se armando novamente. E é curioso perceber como isso acontece em um continente que, por décadas, se acostumou a viver sob o guarda-chuva militar dos Estados Unidos. Mas os tempos mudaram, e a guerra na Ucrânia serviu como um alerta. Agora, os países europeus estão correndo para reforçar suas forças armadas, porque, no fundo, ninguém quer depender inteiramente da boa vontade americana.
A incerteza americana e a necessidade europeia
Olhando para trás, é fácil entender por que a Europa relaxou tanto em relação à sua defesa. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA garantiram a segurança do continente, primeiro para conter a União Soviética e, depois, por pura inércia estratégica. Só que essa dependência nunca foi sustentável a longo prazo. E agora, com a possibilidade real de um governo americano menos interessado em bancar a defesa europeia, os líderes do continente não têm muita escolha a não ser se mexer.
Não me parece razoável acreditar que um governo Trump 2.0 vá continuar despejando dinheiro e tropas na Europa sem exigir algo em troca. Na verdade, se ele mantiver o tom de “américa first”, podemos esperar mais pressão para que os europeus paguem sua parte. Foi o que ele tentou fazer antes e, desta vez, pode ser ainda mais radical.
Quanto a Europa está investindo?
Os números mostram que essa mudança já começou. A União Europeia está planejando um pacote de defesa que pode chegar a 800 bilhões de euros nos próximos anos. Parte desse dinheiro será oferecida como empréstimos para que os países membros consigam reforçar suas capacidades militares sem comprometer demais seus orçamentos.
A Alemanha, que por muito tempo foi relutante em investir pesado em defesa, agora está revendo essa postura. Segundo economistas da zona do euro, o país tem espaço fiscal para se endividar em até 2 trilhões de euros na próxima década sem prejudicar sua economia. Isso significa que Berlim tem margem para modernizar suas forças armadas e ainda investir em infraestrutura.
O orçamento de defesa alemão hoje gira em torno de 1,5% do PIB, mas a meta é atingir pelo menos 2%, conforme as diretrizes da OTAN. Ainda assim, há quem diga que esse valor pode ter que subir mais, dependendo de como o cenário global evoluir (já escrevemos sobre isso aqui).
A Europa pode se defender sozinha?
A grande questão é: será que a Europa está pronta para assumir sua segurança sem depender dos EUA? A resposta, por enquanto, é um misto de sim e não. De um lado, vemos países como Polônia e França aumentando seus gastos militares e buscando desenvolver suas próprias capacidades de defesa. De outro, ainda há uma fragmentação enorme dentro do bloco europeu quando o assunto é segurança.
Cada país tem sua própria abordagem, seus próprios interesses estratégicos e suas próprias indústrias de defesa. Criar uma estrutura comum para garantir a segurança do continente não é tão simples. Mas o fato é que não dá mais para esperar que os EUA continuem sustentando a Europa indefinidamente.
O que vem por aí?
O que estamos vendo agora é um ponto de virada. Durante muito tempo, os europeus puderam se dar ao luxo de investir pouco em defesa porque tinham os americanos ao seu lado. Agora, essa realidade está mudando, e os países do continente precisam encarar a questão com seriedade.
A Alemanha já deu o primeiro passo ao admitir que precisa gastar mais. Outros países seguirão o mesmo caminho. No fim das contas, a Europa está aprendendo que segurança tem um preço – e que, se quiser ter mais autonomia no cenário global, precisa estar disposta a pagar por isso.
Mais detalhes: UE prepara plano de 800 bi de euros para defesa própria e Ucrânia após EUA pausarem ajuda | Mundo | G1 / Alemanha pode gastar quase 2 trilhões de euros sem prejudicar o crescimento, dizem economistas | Mundo | Valor Econômico / America First – Wikipédia