ARMADILHA DE TUCIDIDES

A Armadilha de Tucídides: O Medo que Molda Conflitos no Mundo Atual

Em um mundo onde nações disputam poder e influência, a história oferece lições que ressoam com clareza. A Armadilha de Tucídides, conceito cunhado a partir das observações de um historiador grego do século V a.C., descreve um padrão perigoso: quando uma potência emergente ameaça a hegemonia de outra, o medo mútuo pode conduzir a um conflito que nenhum dos lados deseja, mas que parece inevitável. Esse princípio, nascido na análise da Guerra do Peloponeso, ilumina os desafios da geopolítica em 2025, onde tensões entre grandes potências e seus aliados redefinem o equilíbrio global. Vamos explorar o que isso significa e como se manifesta hoje.

O que explica a Armadilha de Tucídides?

Tucídides, ao estudar o confronto entre Atenas, a potência dominante de sua época, e Esparta, uma força em ascensão, observou que o crescimento de uma nação e o receio que isso provoca em outra podem precipitar um conflito. Em suas palavras, o temor de Esparta diante da expansão ateniense tornou a guerra quase inescapável. A armadilha não reside na intenção de lutar, mas na escalada de ações preventivas: cada lado, movido pela desconfiança, fortalece suas defesas, o que intensifica a insegurança do outro. O resultado é um ciclo de tensão que pode culminar em confronto, mesmo que ninguém o planeje.

Esse padrão não é apenas uma relíquia histórica. Ele se repete quando nações percebem ameaças à sua influência ou segurança, levando a decisões que, embora pareçam racionais no momento, alimentam a possibilidade de conflito.

A armadilha no cenário global de 2025

Hoje, a relação entre Estados Unidos e China é o exemplo mais evidente desse fenômeno. Os EUA, potência dominante desde o século passado, veem na ascensão econômica e política da China uma ameaça à sua liderança global. A China, por sua vez, busca consolidar sua influência, seja por meio de projetos como a Nova Rota da Seda ou de avanços tecnológicos. Um relatório do McKinsey Global Institute de janeiro de 2024 destacou que o comércio global está sendo redesenhado por essas tensões, com os EUA diversificando fornecedores para reduzir a dependência chinesa e a China fortalecendo parcerias estratégicas.

Além do eixo EUA-China

A Armadilha de Tucídides não se limita a uma única rivalidade. No Oriente Médio, a disputa entre Arábia Saudita e Irã por influência regional reflete o mesmo padrão. Com o petróleo representando cerca de 60% das reservas globais, segundo a BP Statistical Review de 2024, cada movimento — de sanções a acordos da OPEP — carrega o peso de cálculos estratégicos. As potências externas, como os EUA, também entram em jogo, ampliando a complexidade.

Na Europa, a crise energética intensificada pela guerra na Ucrânia é outro exemplo. O Financial Times (fevereiro de 2025) relatou que a União Europeia busca novos fornecedores de gás para reduzir a dependência da Rússia, que, por sua vez, usa sua energia como ferramenta política. Cada passo, tomado para garantir segurança, alimenta a desconfiança mútua.

É possível evitar que a armadilha se feche? A história sugere que sim, mas com dificuldade. Acordos multilaterais, como os que marcaram o final do século 20, ajudaram a reduzir tensões no passado. Hoje, porém, o protecionismo ganha força. As tarifas americanas de 2025 têm tanto um caráter econômico quanto geopolítico, dificultando a cooperação global. Ainda assim, há vozes, como a do ex-ministro Celso Amorim em artigo na Folha, que defendem o papel dos BRICS na construção de um sistema mais inclusivo. O desafio é que, enquanto o medo predominar, as nações continuarão a priorizar a autoproteção em vez do diálogo.

A Armadilha de Tucídides revela como o medo e a ambição moldam as relações entre nações. No mundo atual, ela se manifesta nas tensões comerciais, nos conflitos regionais e nas decisões que afetam países como o Brasil. É um lembrete de que a geopolítica, embora complexa, é profundamente humana: nasce da insegurança e da busca por controle. A questão é se as nações conseguirão encontrar caminhos para o diálogo antes que a desconfiança transforme tensões em algo mais grave. Talvez a resposta esteja em reconhecer que, em um mundo interconectado, a segurança de um depende da estabilidade de todos.

Mais detalhes: EUA e China: a caminho da guerra? Desdobramentos recentes na armadilha de Tucídides / Can the US and China Avoid the Thucydides Trap? – JSTOR Daily / Destined for War: Can China and the United States Escape Thucydides’s Trap? – The Atlantic / Statistical Review of World Energy / Energy economics | Home / McKinsey Global Institute: 2024 in charts | McKinsey

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