Globalização em ciclos: uma história que se repete
Imagine um mundo onde produtos cruzam oceanos, ideias voam em segundos e o dinheiro ignora fronteiras. Agora, imagine o oposto: tarifas subindo, negociações tensas, países se voltando para dentro. Parece familiar? Em abril de 2025, a guerra tarifária de Donald Trump sacode o planeta e reacende uma pergunta incômoda: será que a globalização, que nos uniu tanto, está desmoronando? Ou estamos apenas vendo um novo capítulo de um ciclo que já dançou essa música antes? A história sugere que abertura e fechamento vêm em ondas – e Trump parece querer surfar essa onda com um propósito bem claro.
Pax Britannica: quando a Inglaterra comandava o mundo
O mundo já se globalizou e desglobalizou outras vezes. Lá por 1840, começou a chamada “primeira globalização”, a era da Pax Britannica. O Reino Unido era o dono do jogo: sua indústria produzia de tudo, de roupas a navios a vapor. A libra esterlina reinava como moeda global, e a marinha britânica mantinha o comércio fluindo. Era um planeta conectado, mas sob as regras de Londres, com colônias fornecendo matéria-prima e mercados para os produtos ingleses. Um sistema que parecia eterno – até deixar de ser.
O fim de uma era: o que derrubou a primeira globalização?
Veio a Primeira Guerra Mundial, e o castelo de cartas desabou. O conflito quebrou o comércio, abalou economias e revelou que o Reino Unido não mandava mais sozinho. Alemanha e Estados Unidos cresciam rápido, querendo seus lugares ao sol. A liderança britânica fraquejou, e a globalização da época virou história. Hoje, com Trump impondo tarifas, será que estamos vendo algo parecido? Um líder global – os EUA – sentindo o chão tremer enquanto outras potências, como a China, batem à porta?
Trump e a guerra tarifária de 2025: uma mesa de negociação global?
Agora, pule para 2025. Trump está de volta, jogando pesado com tarifas sobre importações – de carros chineses a chips asiáticos. Mas será que ele quer mesmo fechar as portas dos EUA? Ou está armando uma grande mesa de negociação, usando o peso econômico americano para forçar acordos melhores? A estratégia de Trump parece clara: fortalecer a indústria dos EUA, trazer empregos de volta e fazer o mercado interno pulsar novamente. Depois de décadas buscando mão de obra barata na Ásia, no México e em outros cantos, os EUA sentem o preço de terem “terceirizado” sua manufatura. Só que voltar atrás não é tão simples. A China, por exemplo, não é só um fornecedor de mão de obra barata – é uma potência com milhões de engenheiros formados anualmente, capazes de operar fábricas gigantes e atender a demanda global por tudo, de tênis a smartphones. Será que Trump consegue convencer o mundo – e suas próprias empresas – a apostar novamente no “Made in USA”?
Quem ganha com a tentativa de reindustrializar os EUA?
Pense no iPhone, esse ícone global. Você sabia que ele não é feito em um só lugar? Suas lentes podem vir do Japão, a tela da Coreia do Sul, os chips de Taiwan, e a montagem final acontece na China, em fábricas como a Foxconn. Em 2010, Steve Jobs disse a Barack Obama que esses empregos de manufatura não voltariam aos EUA – não por custo, mas porque a China tinha uma vantagem imbatível: uma força de trabalho enorme, qualificada e flexível, com engenheiros e técnicos prontos para trabalhar 24/7. Em 2017, Tim Cook, atual CEO da Apple, reforçou o argumento: “Na China, você tem uma cultura de manufatura que não existe mais nos EUA. A cadeia de suprimentos lá é um ecossistema perfeito.” Nos EUA, formar essa rede de fornecedores e trabalhadores levaria anos – talvez décadas.
Então, o que Trump quer? Ele sonha em reverter esse êxodo industrial, trazendo fábricas de volta para Ohio ou Michigan. Mas como competir com a China, que forma 1,7 milhão de engenheiros por ano, contra 200 mil nos EUA? Ou com a Coreia do Sul, onde a educação técnica é quase uma religião, produzindo experts para indústrias como a Samsung? As tarifas podem forçar negociações, mas também encarecem produtos. Um iPhone 100% americano seria inviável – mais caro e mais lento de produzir. Quem paga a conta? O consumidor americano? Ou as empresas, que podem simplesmente mudar suas fábricas para o Vietnã ou a Índia, onde a mão de obra ainda é barata?
O futuro da globalização: ajustar cadeias ou mudar o jogo?
A Pax Britannica caiu porque o mundo mudou, e Londres não segurou as pontas. Hoje, os EUA ainda têm o dólar como moeda global e um mercado consumidor gigante, mas a competição é feroz. A China não apenas fabrica – ela inova, com empresas como Huawei e BYD desafiando gigantes ocidentais. A Coreia do Sul domina telas e chips, enquanto Taiwan segura as chaves da indústria de semicondutores. Trump pode querer ajustar os “desarranjos” da economia americana, mas as cadeias globais de suprimentos são como uma teia: mexer em um fio balança tudo. E se as tarifas só empurrarem as fábricas para outros países asiáticos, em vez de trazê-las para casa? Talvez o plano de Trump seja menos sobre fechar portas e mais sobre abrir conversas – forçar a China, a Europa e outros a cederem em acordos comerciais. Mas o risco é alto: um mundo mais fragmentado, com preços subindo e tensões crescendo.
E agora, para onde vamos?
E você, o que acha? Trump está blefando para negociar, ou realmente acredita que pode ressuscitar a indústria americana? As cadeias globais, tecidas com fios da China, Coreia, Japão e Taiwan, não se desfazem com um decreto. Um iPhone americano pode ser um sonho patriótico, mas, como Jobs e Cook disseram, a realidade é outra. O mundo segue conectado, mesmo com tarifas. Resta saber se Trump vai liderar uma nova dança global – ou se será apenas um passo em falso numa música que já está mudando.
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