ELEICAO SUPREMA CORTE EUA

As corridas da Suprema Corte estadual nos EUA

Já imaginou ir às urnas para escolher um juiz? Não um prefeito ou um deputado, mas alguém que vai decidir sobre leis, direitos e até o futuro das eleições? Pois é exatamente isso que acontece nas corridas para as Supremas Cortes estaduais nos Estados Unidos, um costume que, para nós brasileiros, pode soar como ficção. Enquanto aqui os juízes chegam ao cargo por concursos ou nomeações, lá em muitos estados o povo tem a palavra final. Como será que justiça e política se misturam assim sem virar bagunça? E mais: o que isso diz sobre o poder nas mãos dos cidadãos — ou nas mãos de quem financia as campanhas? Vamos abrir essa janela, entender as raízes dessa tradição e ver como ela ganhou vida em 2025, com a eleição da Suprema Corte de Wisconsin que parou o país.

Jacksonian Democracy e 1830: o início das eleições para juízes

A história começa no século XIX, quando os Estados Unidos ainda estavam moldando seus estados após a independência, em 1776. No início, os governadores ou as assembleias locais escolhiam os juízes das Supremas Cortes estaduais — tribunais que, para nós, seriam como uma segunda instância. Mas aí veio a tal “Jacksonian Democracy”, nos anos 1830 e 1840, liderada pelo presidente Andrew Jackson. E se o povo tivesse mais voz? Por que deixar só as elites mandarem? Foi assim que 38 dos 50 estados americanos resolveram: “Que tal colocar os juízes nas urnas?”. Uma ideia que parece confiar na sabedoria popular, mas será que não abre a porta para a política invadir o que deveria ser imparcial? Vamos ver como isso funciona.

Como é que se elege um juiz, afinal?

Imagine uma campanha eleitoral, mas em vez de promessas de asfalto novo, o candidato fala de leis e justiça. É mais ou menos assim que rola nos estados que elegem juízes. Quem concorre? Geralmente, gente com experiência: juízes de instâncias menores, advogados famosos ou ex-procuradores. Eles se inscrevem, mas aí vem a pergunta: como convencer o povo a votar em você? A resposta está na campanha. Tem propaganda na TV, cartaz na rua, debate ao vivo — e, claro, muito dinheiro. Empresas, sindicatos e até bilionários entram no jogo, doando fortunas. No dia da eleição, o povo vota, como em qualquer disputa, e o vencedor ganha um mandato longo, às vezes de 10 anos, para decidir coisas sérias, como regras eleitorais ou direitos básicos. Mas espera aí: será que um juiz eleito pensa mais no povo que votou nele ou nos poderosos que pagaram a campanha?

O caso de Wisconsin em 2025

E se uma eleição para juiz pudesse mudar o rumo de um estado inteiro — ou até de um país? Foi o que aconteceu em Wisconsin, agora em abril de 2025. Esse estado, conhecido por balançar entre democratas e republicanos — os famosos “swing states” — (ja falamos sobre isso aqui), virou palco de uma disputa histórica para a Suprema Corte estadual. De um lado, Susan Crawford, uma juíza progressista; do outro, Brad Schimel, ex-procurador com ideias conservadoras. O que estava em jogo? Nada menos que o controle da corte, decidindo o futuro de temas como aborto e mapas eleitorais.

A coisa ficou feia — ou melhor, cara. Foram mais de 90 milhões de dólares gastos, um recorde absurdo. Elon Musk, o bilionário amigo de Donald Trump, jogou milhões para Schimel, enquanto os democratas fizeram o mesmo por Crawford, com apoio do bilionario de esquerda George Soros. No fim, Crawford venceu, garantindo uma maioria progressista. Vitória para uns, derrota para outros, mas fica a dúvida: foi o povo que decidiu mesmo, ou o dinheiro falou mais alto? Wisconsin mostrou o poder do voto, mas também o quanto ele pode custar.

Brasil e EUA: até onde a política manda na Justiça?

E aí, será que somos tão diferentes assim dos americanos quando o assunto é misturar política e Justiça? Nos Estados Unidos, o povo vota diretamente para juízes das Supremas Cortes estaduais, algo que, à primeira vista, parece distante do Brasil. Aqui, juízes chegam ao cargo por concursos ou nomeações, mas não se engane: quando falamos de tribunais superiores, como o STF ou o TCU, a coisa muda de figura. Advogados e juízes competem sim, e muito, por essas vagas. Não é o povo que vota, mas os bastidores fervem com articulações políticas, apoios de partidos e até pedidos de favor entre os poderosos. A disputa é grande, e o peso da influência está lá, só que escondido nos corredores, não nas urnas. Será que isso é tão diferente assim de Wisconsin?

Nos EUA, a eleição aberta traz o povo para o jogo, como vimos em 2025, com milhões de dólares e campanhas na TV definindo o futuro da Justiça. Aqui, a escolha pode ser mais discreta, mas não menos política: um ministro do STF, por exemplo, precisa do aval do presidente e do Senado, e isso envolve negociações que nem sempre aparecem no jornal. Lá, o dinheiro fala alto nas ruas; cá, ele sussurra nos gabinetes. Em ambos os casos, a imparcialidade da Justiça fica na corda bamba. O que você acha: é melhor o povo escolher, com todos os riscos, ou deixar nas mãos de quem já manda? E até onde a política deveria chegar quando o assunto é julgar?

Mais detalhes: Why this year’s hottest election is for a Wisconsin court seat / Trump e Musk sofrem primeira derrota eleitoral com votação para Suprema Corte de Wisconsin, nos EUA | Mundo | G1 / Elon Musk e George Soros protagonizam um embate político histórico em Wisconsin – Gazeta Brasil- Notícias do Brasil e do Mundo / O processo eleitoral nos Estados Unidos e a República Velha / Democracia jacksoniana – Wikipédia / Andrew Jackson – Democracia Jacksoniana, 7º Presidente, Guerra de 1812 | Britannica / Disputas por vaga no STF e eventual sucessão de Di… | VEJA / Disputa por vaga em tribunais mobiliza membros do STF e PT – Folha

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