A Bandeira dos Inconfidentes de Carlos Oswald, óleo sobre tela

A Bandeira dos Inconfidentes de Carlos Oswald, óleo sobre tela

Três revoltas, um mesmo espírito: Independência dos EUA, Inconfidência Mineira e Revolução Francesa

A história tem momentos em que parece que o mundo inteiro pega fogo ao mesmo tempo. O fim do século XVIII foi um desses períodos. Enquanto os Estados Unidos declaravam sua independência, em 1776, um grupo de intelectuais em Minas Gerais sonhava em fazer o mesmo, e, poucos anos depois, a França mergulhava na mais icônica revolução da história ocidental. O que diabos estava acontecendo? Como três lugares tão diferentes puderam ser sacudidos por ideias tão parecidas? Bora conectar os pontos.

O contexto: um mundo em ebulição

O século XVIII foi uma panela de pressão. As ideias do Iluminismo fervilhavam pela Europa, questionando a autoridade absoluta dos reis e a desigualdade imposta por séculos de tradição. “Liberdade”, “direitos”, “cidadania” e “fim dos privilégios” eram palavras cada vez mais comuns nos debates entre intelectuais e revolucionários. Mas, como bem sabemos, ideias não ficam presas em livros – elas se espalham, inflamam corações e viram ação.

E quando a insatisfação encontra um povo sufocado por impostos, explorado economicamente e cansado de ser mandado por quem está longe… bem, a história acontece.

A Independência dos EUA (1776): a faísca inicial

Soldados americanos lutando na Batalha de Long Island, de 1776

Os colonos americanos estavam de saco cheio. A Inglaterra via suas colônias na América como uma máquina de dinheiro, impondo taxas e leis que restringiam a economia local. O problema? Os colonos não tinham voz nenhuma no parlamento britânico. Era imposto atrás de imposto, sem direito a opinião. E ninguém gosta de pagar a conta sem ser ouvido.

A gota d’água veio com a Lei do Selo (1765) e os Atos Townshend (1767), que cobravam impostos sobre praticamente tudo. Os colonos responderam com revoltas, boicotes e o famoso Boston Tea Party, em 1773 – um protesto que envolveu jogar toneladas de chá britânico no mar. Na sequência, veio a guerra e, em 4 de julho de 1776, a Declaração de Independência dos EUA.

Os americanos venceram e mostraram ao mundo que era possível quebrar as correntes do colonialismo. Um baita incentivo para outros povos que também queriam liberdade.

A Inconfidência Mineira (1789): um grito abortado

Jornada dos Mártires, de Antônio Parreiras. Retrata a passagem, em Matias Barbosa, dos inconfidentes presos.

Enquanto os americanos lutavam e venciam, no Brasil a história tomava um rumo diferente. Minas Gerais, na época, era um dos motores da economia colonial portuguesa, graças ao ouro que saía de lá. Mas, assim como na América do Norte, a coroa portuguesa cobrava pesados impostos, especialmente a temida Derrama, que previa a cobrança forçada de tributos atrasados.

Os inconfidentes mineiros, inspirados pelo que acontecia nos EUA, começaram a tramar um movimento de independência. A ideia? Criar um país livre, com universidades, uma nova moeda e até um sistema republicano. O problema? O grupo foi delatado antes de agir. O resultado foi brutal: Tiradentes, o mais conhecido entre eles, foi enforcado e esquartejado como exemplo.

Mas se engana quem acha que o sonho morreu ali. A semente da revolta ficou plantada e, anos depois, ajudou a moldar os ideais da independência do Brasil.

A Revolução Francesa (1789): o furacão que varreu a Europa

Tomada da Bastilha, de Jean-Pierre Louis Laurent Houel.

Enquanto os mineiros viam seu plano ruir, do outro lado do Atlântico, a França explodia. A revolução de 1789 não foi só uma luta contra impostos abusivos – foi um terremoto social. A monarquia absolutista, que por séculos governava sem prestar contas a ninguém, entrou em colapso.

A França estava quebrada, a nobreza vivia no luxo enquanto o povo passava fome, e a crise econômica só piorava. Inspirados pelas ideias iluministas (e pelo sucesso dos americanos), os revolucionários tomaram as ruas. O estopim? A Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789. Daí em diante, a coisa só escalou: a monarquia foi derrubada, a guilhotina virou símbolo de justiça, e a frase “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” virou lema da nova França.

O impacto foi gigantesco. Governos da Europa tremeram, o mundo nunca mais seria o mesmo, e os ecos dessa revolução ressoam até hoje.

O fio que liga tudo isso

O que conecta essas três revoltas? Em resumo: a luta contra o abuso de poder. Nos EUA, colonos rejeitaram um rei distante que explorava suas riquezas. Em Minas, intelectuais queriam se livrar do domínio português e criar algo novo. Na França, o povo derrubou uma monarquia corrupta e instaurou uma nova ordem.

Mas tem um detalhe curioso: enquanto os americanos conseguiram sua independência e os franceses mudaram seu regime, os inconfidentes mineiros fracassaram. Por quê? Talvez porque a estrutura colonial no Brasil fosse muito mais rígida, ou porque a sociedade brasileira, diferente da americana, ainda não estava disposta a bancar uma guerra.

Mesmo assim, esses eventos formaram a base para futuras revoluções e mudanças políticas. Eles não foram apenas “momentos históricos”, mas pontos de virada que ajudaram a moldar o mundo moderno.

E hoje, o que aprendemos com isso?

Se tem algo que a história nos ensina é que nenhuma grande transformação acontece do nada. Ideias se espalham, se fortalecem, e um dia encontram um contexto propício para virar realidade.

A pergunta que fica é: estamos vivendo um momento parecido hoje? As lutas por liberdade e justiça ainda fazem sentido? Quem são os novos “reis” e “imperadores” contra os quais a sociedade se revolta?

Talvez as revoluções do século XVIII não sejam apenas um passado distante, mas um espelho do que ainda está por vir.

Fonte: Declaração da Independência dos Estados Unidos – Wikipédia / Inconfidência Mineira – Wikipédia / Revolução Francesa – Wikipédia

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