Chávez e Ahmadinejad [Foto: picture-alliance/dpa]

Chávez e Ahmadinejad [Foto: picture-alliance/dpa]

Manobras Geopolíticas do Irã na América Latina: Uma Aliança Nuclear e Estratégica

Em janeiro de 2017, Mahmoud Ahmadinejad, figura influente no Irã mesmo após deixar a presidência, teria contatado seu aliado mais próximo na América Latina, Hugo Chávez, então presidente da Venezuela. Segundo informações, Ahmadinejad pediu a Chávez que convencesse os argentinos Néstor e Cristina Kirchner a compartilhar segredos de tecnologia nuclear da Argentina. Esse pedido estava ligado à ambição de longa data do Irã de reconstruir suas capacidades nucleares, especialmente após a destruição da usina nuclear de Bushehr durante a Guerra Irã-Iraque (1980–1988). Por duas décadas, com ajuda da União Soviética e, posteriormente, da Rússia, o Irã tentou reerguer Bushehr. A Argentina era uma peça-chave, pois operava um reator de água pesada semelhante em Atucha, capaz de produzir plutônio — um possível caminho para armas nucleares. Curiosamente, em 2010, apenas três anos após a suposta mediação de Chávez, o Irã anunciou que Bushehr estava operacional. Essa cronologia levanta questões sobre uma possível cooperação nuclear secreta facilitada por intermediários latino-americanos.

Esse episódio reflete a estratégia geopolítica mais ampla do Irã na América Latina, onde o país cultiva laços econômicos, militares e políticos para contornar sanções ocidentais e expandir sua influência. A seguir, exploramos as múltiplas facetas do envolvimento iraniano, utilizando fontes confiáveis para detalhar as ambições nucleares, alianças estratégicas, operações secretas e a relação específica com o Brasil.

Ambições Nucleares e a Conexão com a Argentina

O interesse do Irã na tecnologia nuclear argentina decorre das semelhanças técnicas entre os reatores de Atucha, na Argentina, e a usina de Bushehr, no Irã. Ambos são reatores de água pesada, que geram plutônio como subproduto, oferecendo uma rota potencial para armas nucleares. Um artigo de 2015 do Business Insider (link) destaca alegações de uma rede chamada “Aeroterror”, sugerindo que Venezuela e Irã buscaram a expertise nuclear da Argentina durante os governos Kirchner. O texto cita a revista brasileira Veja (link), que afirma que Chávez mediou negociações para transferência de tecnologia nuclear, oferecendo à Argentina incentivos econômicos e imunidade em investigações sobre o suposto envolvimento do Irã no atentado à AMIA, em Buenos Aires, em 1994. Embora essas alegações não sejam comprovadas, elas ecoam suspeitas levantadas pelo DefesaNet (link), que detalha um possível eixo nuclear entre Argentina, Irã e Venezuela, destacando a infraestrutura nuclear avançada da Argentina como um ativo estratégico para o Irã.

O atentado à AMIA, que matou 85 pessoas, segue sendo um ponto de tensão nas relações entre Argentina e Irã. O Diálogo Américas (link) relata que o Hezbollah, proxy do Irã, expandiu sua presença na América Latina por meio de redes ligadas ao ataque à AMIA, utilizando comunidades da diáspora e financiamento ilícito. As investigações argentinas sobre o papel do Irã geraram desconfiança, mas pressões econômicas durante os governos Kirchner podem ter aberto canais informais de cooperação. A coluna Veja International (link) explora essa “conexão Teerã-Caracas-Buenos Aires”, sugerindo que o conhecimento nuclear argentino foi uma moeda de troca na estratégia regional do Irã.

Venezuela: A Porta de Entrada do Irã na América Latina

A Venezuela tem sido o principal canal do Irã na América Latina, construindo laços profundos sob Chávez e seu sucessor, Nicolás Maduro. Um artigo de 2007 do New York Times (link) descreve o entusiasmo de Chávez pelo Irã, com acordos para empreendimentos conjuntos em petróleo, petroquímica e manufatura, apresentados como contrapeso à influência dos EUA. Esses laços se intensificaram. O IntelliNews (link) relata que, em 2024, Irã e Venezuela assinaram acordos de cooperação industrial em Caracas, focando em setores automotivo e agrícola, apesar das sanções que afetam ambos os países. Essa resiliência destaca o interesse mútuo em desafiar o isolamento ocidental.

Um símbolo dessa aliança é a rota aérea Caracas-Teerã operada pela Conviasa, a companhia aérea estatal venezuelana. O Travel and Tour World (link) e o Aviacionline (link) informam que a Conviasa retomou os voos diretos em 2022, fortalecendo os laços bilaterais. Contudo, esses voos geraram preocupações. O United Against Nuclear Iran (link) os classifica como uma “ponte aérea” que facilita atividades ilícitas, incluindo o transporte de pessoal do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) e materiais. A Veja International (link) alega que a Conviasa vendeu passagens inexistentes para esses voos “Aeroterror”, possivelmente para ocultar seu verdadeiro propósito.

O aterrissagem forçada de um Boeing 747 venezuelano na Argentina, em 2022, operado pela Emtrasur (subsidiária da Conviasa), intensificou as suspeitas. O CBS News (link) e o The Times of Israel (link) relatam que a aeronave, anteriormente pertencente à iraniana Mahan Air, foi detida devido a supostos laços de sua tripulação com o IRGC. O IranWire (link) detalha a presença de oficiais do IRGC a bordo, sugerindo que o voo fazia parte de operações secretas do Irã. O The Jerusalem Post (link) destaca os esforços dos EUA para confiscar a aeronave, reforçando preocupações sobre o uso da infraestrutura venezuelana para evasão de sanções e logística militar.

Operações Militares e Secretas

A presença militar do Irã na América Latina está crescendo, especialmente por meio da Venezuela. O Middle East Forum (link) relata que o Irã intensificou sua presença militar, fornecendo drones e treinando pessoal na Venezuela para apoiar o regime de Maduro. Um artigo do Middle East Quarterly (link) detalha os avanços estratégicos do Irã, incluindo acordos de armamento e compartilhamento de inteligência, aproveitando a postura antiamericana da Venezuela. A análise do FDD (link) alerta que a influência de Teerã em Caracas se estende ao apoio às redes do Hezbollah na região, envolvidas em tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

A Relação do Brasil com o Irã

O Brasil, embora menos central que a Venezuela no eixo iraniano na América Latina, tem sido alvo de atividades discretas do Irã, especialmente por meio de iniciativas culturais e econômicas que mascaram intenções estratégicas. Um artigo da Veja (link) revela que o Irã mantém um “consulado fantasma” em São Paulo, operando extraoficialmente em um escritório na Avenida Paulista. Esse espaço, segundo a revista, não é reconhecido pelo Itamaraty, mas serve como base para atividades de influência cultural e econômica, incluindo a promoção de eventos e contatos com a comunidade muçulmana local. A presença desse “consulado” levanta preocupações sobre a possibilidade de o Irã usar São Paulo como um centro para operações encobertas, incluindo o recrutamento de simpatizantes e o fortalecimento de laços econômicos sob o radar.

Além disso, o INSS (link) aponta que o Irã utiliza cobertura diplomática em toda a América do Sul para facilitar operações do Hezbollah, explorando governança fraca e redes de corrupção. No caso do Brasil, a grande comunidade de origem árabe, especialmente em São Paulo e na região da Tríplice Fronteira (que inclui Brasil, Argentina e Paraguai), oferece um terreno fértil para as atividades do Hezbollah, como financiamento ilícito e lavagem de dinheiro. O Diálogo Américas (link) reforça essa análise, destacando que as redes do Hezbollah na América Latina, incluindo no Brasil, têm se expandido por meio de atividades comerciais e comunitárias, muitas vezes com apoio indireto do Irã.

Embora o Brasil não seja mencionado como um parceiro direto nas negociações nucleares ou nas rotas aéreas Caracas-Teerã, sua relevância está na sua posição estratégica como maior economia da América do Sul e na presença de comunidades que podem ser exploradas para fins de inteligência. O Middle East Forum (link) e o Middle East Quarterly (link) sugerem que o Irã vê o Brasil como um ponto de entrada para expandir sua influência cultural e política, especialmente em um contexto de tensões com os EUA. A ausência de menções explícitas ao Brasil em outros links, como os relacionados ao avião da Emtrasur ou aos acordos industriais entre Irã e Venezuela, indica que o envolvimento brasileiro é mais sutil, focado em soft power e redes informais, mas não menos preocupante para as autoridades de segurança regionais.

Implicações Geopolíticas

A estratégia do Irã na América Latina é um esforço calculado para projetar poder, evadir sanções e perseguir ambições nucleares. O suposto pedido nuclear, mediado por Chávez, ilustra como Teerã usa aliados ideológicos para acessar tecnologias restritas. O papel da Venezuela como centro de operações do IRGC e redes do Hezbollah amplia o alcance do Irã, enquanto a expertise nuclear da Argentina permanece um alvo estratégico. No Brasil, a presença de um “consulado fantasma” e a exploração de comunidades locais sugerem uma abordagem de longo prazo para consolidar influência. A ponte aérea Caracas-Teerã e o incidente do avião cargueiro revelam a logística que sustenta essa aliança, levantando alertas sobre riscos de proliferação.

Críticos argumentam que esses laços desestabilizam a região, fortalecendo redes ilícitas e minando a governança democrática. No entanto, Irã e Venezuela apresentam sua cooperação como uma resposta legítima à hegemonia dos EUA. A verdade provavelmente combina solidariedade ideológica e oportunismo pragmático. Com o aperto das sanções, a dependência do Irã de parceiros latino-americanos, incluindo o Brasil, crescerá, exigindo maior vigilância sobre esse eixo transcontinental.

Para mais informações, consulte as fontes citadas acima, que oferecem detalhes aprofundados sobre essa complexa rede geopolítica. A interação entre ambições nucleares, cooperação militar, operações secretas e a expansão da influência iraniana no Brasil destaca a determinação do Irã em estabelecer uma base no Hemisfério Ocidental.

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