A Teoria Malthusiana: O Pessimismo Demográfico do Século XVIII
No final do século XVIII, em plena Revolução Industrial britânica, um clérigo anglicano e economista chamado Thomas Robert Malthus (1766-1834) publicou anonimamente uma obra que marcaria profundamente o pensamento demográfico e econômico mundial. “An Essay on the Principle of Population” (Ensaio sobre o Princípio da População), lançado em 1798, apresentava uma visão alarmante sobre o futuro da humanidade.

Malthus observou que, entre 1785 e 1790, a população inglesa havia dobrado devido às melhorias sanitárias, ao aumento da produção de alimentos e aos avanços no combate às doenças — todos benefícios da Revolução Industrial. Contudo, essa constatação o levou a uma preocupação: enquanto a população crescia em progressão geométrica (2, 4, 8, 16, 32…), a produção de alimentos aumentava apenas em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10…).
A conclusão de Malthus era categórica: inevitavelmente, chegaria um momento em que a humanidade enfrentaria uma escassez drástica de alimentos, resultando em fome generalizada, miséria e morte. Segundo sua teoria, a natureza interviria nos momentos em que o desequilíbrio atingisse determinado limite, por meio de “obstáculos positivos” — como fome, doenças, epidemias e guerras — que aumentariam a taxa de mortalidade, ou através de “obstáculos preventivos” — como abstinência sexual, casamentos tardios e controle de natalidade — que reduziriam a taxa de natalidade.
O economista inglês propunha, portanto, uma reeducação moral da população, especialmente das classes mais pobres, que deveriam assumir a responsabilidade pelo controle de nascimentos. Vale ressaltar que, apesar de sua relevância histórica, Malthus não previu o desenvolvimento tecnológico que viria a transformar a agricultura através da chamada Revolução Verde, permitindo que a produção de alimentos crescesse exponencialmente no século XX.
O Neomalthusianismo: A Atualização da Teoria no Século XX

A partir da segunda metade do século XX, com a explosão demográfica observada globalmente, as ideias de Malthus foram retomadas e adaptadas pelos neomalthusianos. Diferentemente de Malthus, que era religioso e não aceitava métodos contraceptivos artificiais, os neomalthusianos defendiam ativamente o uso de anticoncepcionais, políticas de planejamento familiar e intervenção estatal no controle populacional.
Para os neomalthusianos, o crescimento populacional acelerado nos países subdesenvolvidos seria a causa principal da pobreza e da miséria, não o contrário. Argumentavam que o aumento populacional obrigava os governos a deslocar recursos que poderiam ser investidos no desenvolvimento econômico para medidas sociais de assistência às parcelas mais pobres. O exemplo mais emblemático dessa abordagem foi a “Política do Filho Único” implementada pela China, que vigorou até o final do século XX.

As Críticas Marxistas e a Teoria Reformista
Karl Marx foi um dos mais severos críticos da teoria malthusiana, considerando-a “totalmente falsa e pueril”. Para Marx, Malthus criava um “homem abstrato”, desconectado da história e das relações sociais concretas. A crítica marxista apontava que o problema fundamental não estava no crescimento populacional em si, mas sim na má distribuição de renda e recursos característica do sistema capitalista.
A Teoria Reformista, também conhecida como teoria marxista da população, surgiu como contraponto direto ao malthusianismo. Os reformistas argumentavam que a pobreza é a causa do crescimento populacional acelerado, e não sua consequência. Em países desenvolvidos, onde há melhor qualidade de vida e acesso à educação, as taxas de natalidade tendem a ser menores.
Segundo essa perspectiva, a solução para o crescimento demográfico desordenado não estaria em políticas de controle de natalidade, mas sim em reformas estruturais: melhor distribuição de renda, acesso universal à educação e saúde, infraestrutura urbana de qualidade e inclusão social. Marx enfatizava que, com o modo de produção capitalista, haveria finalmente a possibilidade de produção suficiente para atender toda a demanda, se a produção fosse distribuída igualitariamente.
Thanos: O Titã Malthusiano do Universo Cinematográfico Marvel

Em 2018 e 2019, a Marvel Studios apresentou ao mundo um dos vilões mais complexos e filosoficamente intrigantes da cultura pop contemporânea: Thanos, o Titã Louco. Nos filmes “Vingadores: Guerra Infinita” e “Vingadores: Ultimato”, o personagem interpretado por Josh Brolin emerge não como um vilão caricato movido pelo desejo de poder, mas como um fanático ideológico com uma visão distorcida de salvação universal.
A premissa central de Thanos é surpreendentemente malthusiana: ele testemunhou seu planeta natal, Titã, sucumbir ao colapso devido à superpopulação e à escassez de recursos. Quando era mais jovem, Thanos propôs uma solução drástica à população de Titã: eliminar metade dos habitantes de forma aleatória, sem distinção entre ricos e pobres, permitindo que a outra metade sobrevivesse e prosperasse com os recursos disponíveis. Sua proposta foi rejeitada, ele foi chamado de louco, e Titã pereceu, tornando-se as ruínas que observamos no filme.
Essa experiência traumática moldou a ideologia genocida de Thanos. Convencido de que estava correto, ele dedicou sua existência a impedir que outros planetas sofressem o mesmo destino que o seu lar. Sua busca pelas Joias do Infinito tinha um propósito específico: reunir poder suficiente para, com um simples estalar de dedos, eliminar metade de toda a vida no universo.
As Semelhanças Conceituais: Malthus e Thanos
A conexão entre Thomas Malthus e Thanos não é acidental nem sutil. Diversos estudiosos e educadores já estabeleceram essa relação:
1. O Princípio da Escassez
Tanto Malthus quanto Thanos compartilham a premissa fundamental de que os recursos são finitos e escassos. Malthus via na limitação da terra agricultável e na lei dos rendimentos decrescentes um limite absoluto à produção de alimentos. Thanos, de forma similar, acreditava que o universo possuía recursos finitos que não poderiam sustentar indefinidamente o crescimento populacional de todas as espécies.
2. Progressão Geométrica da População
A ideia central de Malthus era que a população, quando não controlada, cresce em progressão geométrica. Thanos observou exatamente esse fenômeno em Titã e em outros planetas que visitou: populações crescendo exponencialmente até esgotar os recursos disponíveis. A superpopulação, para ambos, representava o maior desafio existencial para a sobrevivência das sociedades.
3. A Inevitabilidade da Catástrofe
Malthus alertava que, sem intervenção, o desequilíbrio entre população e recursos levaria inevitavelmente à fome, doenças e colapso social. Thanos, de forma ainda mais dramática, testemunhou essa “catástrofe malthusiana” se concretizar em Titã. Sua visão de mundos sucumbindo à escassez reforçava sua convicção de que uma intervenção radical era necessária para evitar o sofrimento generalizado.
4. A Busca pelo Equilíbrio
Ambos os pensamentos convergem na ideia de equilíbrio. Para Malthus, esse equilíbrio deveria ser alcançado através do controle moral da reprodução. Para Thanos, o equilíbrio seria restaurado através da eliminação de metade da população, permitindo que os sobreviventes vivessem com dignidade e recursos suficientes.
Mais detalhes: Teoria populacional malthusiana – Wikipédia / Ensaio sobre o Princípio da População – Superinteressante / Entenda A Teoria Malthusiana – Brasil Paralelo / Thanos e o Malthusianismo – ENEM / Dinâmica Populacional – Efeito Thanos – Portal Deviante / Teoria Neomalthusiana – Mundo Educação / Karl Marx e Thomas Malthus – Marxismo21 / A lógica de Thanos e a filosofia do utilitarismo – ArteRef / Thanos – Wikipédia / Thomas Malthus – Wikipédia / THOMAS MALTHUS: Biografía, Teoría, Aportaciones, y más